Cientistas ampliam resistência física de roedores

Adicionar à dieta proteínas previamente digeridas pode acarretar uma melhora sensível no desempenho físico — ao menos no caso de roedores. Isso é o que mostraram pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp): em testes realizados em laboratório, ratos que ingeriram a forma hidrolisada de proteínas do leite mostraram resistência física até 2,6 vezes maior que a dos animais de controle. A equipe pretende agora testar o efeito do procedimento em humanos.

Um teste de exaustão avaliou durante quanto tempo conseguiam correr numa esteira ratos que ingeriram proteínas do leite, hidrolisadas ou não

O estudo avaliou o desempenho das cobaias após o acréscimo de proteínas do soro do leite à sua dieta-padrão. Trinta ratos consumiram as proteínas intactas durante duas semanas; um segundo grupo recebeu as proteínas hidrolisadas , ou seja, parcialmente quebradas em laboratório, já com alguns aminoácidos liberados.

A pesquisa foi motivada por resultados animadores obtidos em estudos da mesma equipe com a forma hidrolisada de uma das proteínas do soro (a alfa-lactalbumina). As novas conclusões foram submetidas a publicação na revista British Journal of Nutrition . O estudo foi feito pelo biofísico Jaime Amaya-Farfán, com a colaboração de Fernanda Motta Veiga Pimenta, Maria Inés Abeica Soria e Flávia Auler.

Em cada grupo de ratos, 10 permaneceram sedentários em suas gaiolas e 20 foram treinados diariamente em esteira, por tempo determinado. Dos animais treinados, 10 foram posteriormente submetidos a um teste de exaustão. Os resultados foram surpreendentes: enquanto os animais do primeiro grupo correram durante 60 minutos, os ratos que haviam recebido as proteínas hidrolisadas resistiram por até 100 minutos a mais.

 

Mas como explicar esse aumento da resistência? Os pesquisadores avaliaram o estado fisiológico dos animais após os testes. “Os ratos do segundo grupo apresentaram uma preservação dos níveis de glicose no sangue, ao contrário do que ocorre normalmente em situações de exaustão física”, afirma Amaya-Farfán. “Essa queda nos níveis de glicose provoca um déficit no cérebro e a diminuição de reflexos.”
Foram medidas ainda outras alterações na concentração de substâncias indicadoras de estresse metabólico normalmente encontradas na prática de exercícios físicos. “Houve preservação significativa das proteínas do sangue e do glicogênio muscular, assim como um menor acúmulo de ácido láctico entre os animais que receberam as proteínas hidrolisadas”, afirma Amaya-Farfán. Esses parâmetros indicam uma maior resistência ao esforço físico.
O estudo também apontou que os ratos mais novos apresentaram uma melhora do desempenho mais significativa em relação aos mais velhos. “Por esse motivo, as proteínas hidrolisadas não acarretariam um ganho dessa proporção na performance de um atleta adulto já bem condicionado fisicamente”, prevê Farfán. “Mas não há por que duvidar que ela levará a uma melhora importante do seu desempenho.”
Caso seja comprovada sua eficácia nos testes com humanos, as proteínas poderiam ser usadas para improvisar o desempenho físico de atletas, mas também para incrementar a dieta de pacientes na fase pós-hospitalar e acelerar sua recuperação. “A riqueza de certos aminoácidos do soro de queijo tem ajudado de forma significativa no ganho de massa muscular do tratamento de pacientes com Aids”, exemplifica Farfán.

 

Renata Moehlecke
Ciência Hoje On-line
12/08/04