Cipó da Mata Atlântica tem efeito analgésico

Mesmo quase completamente devastada, a Mata Atlântica ainda reserva surpresas em sua vegetação nativa. Já bastante utilizado na medicina popular, só agora a espécie Tynnanthus fasciculatus Miers, originária desse bioma brasileiro, teve suas propriedades farmacológicas estudadas. Pesquisadores do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) comprovaram em testes com camundongos o efeito analgésico desse vegetal, mais conhecido como cipó-cravo ou cipó-trindade.

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O cipó-cravo ( Tynnanthus fasciculatus Miers ) é usado popularmente para
combater má digestão e dores no estômago (foto: Stela Murgel/Unifesp)

Batizado com esse nome por exalar um perfume de cravo, esse cipó é utilizado como remédio caseiro há séculos para combater má digestão e dores no estômago. Ele também é adotado popularmente como um forte estimulante e afrodisíaco quando misturado ao álcool.

Os resultados da pesquisa da Unifesp, primeiro estudo farmacológico feito sobre essa espécie, foram animadores, pois o extrato da planta não apresentou toxicidade quando administrado em camundongos. O estudo integra as pesquisas do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), e teve origem na monografia de fim de curso do estudante de biologia Daniel de Santi, orientado pela bióloga Rita Mattei.

Os camundongos foram submetidos a dois testes para verificar suas respostas à dor. Num deles, eles deveriam ficar no máximo 30 segundos sobre uma placa aquecida a 55°C. No outro, uma solução com 0,8% de ácido acético aplicada nos animais causaria dores abdominais. “A planta protegeu os animais da dor ao diminuir o número de contorções abdominais induzidas por ácido acético e prolongar o tempo de resposta ao estímulo do calor no teste da placa quente”, explica Rita Mattei.

Estudos fitoquímicos prévios já haviam apontado nessa planta a presença do alcalóide tinantina, que, segundo Rita, poderia ser a substância responsável por sua propriedade analgésica. Porém, novos estudos seriam necessários para comprovar essa suspeita e determinar em que tipo de tratamento o cipó-cravo seria mais indicado.

“Até o momento foram realizados apenas estudos preliminares com a planta”, disse Rita. “Não é possível ainda dizer para que tipo de dor ela seria indicada ou mesmo se seria um analgésico forte.” Até serem realizados testes com humanos, a bióloga acredita que serão necessários aproximadamente mais cinco anos de pesquisa.

Além de possuir propriedade analgésica, a planta também apresentou uma ação antioxidante avaliada em teste in vitro , o que sugere que ela pode ter componentes que inibem a ação de radicais livres, produzidos durante a queima de oxigênio em nossas células e responsáveis pelo envelhecimento precoce.

Liza Albuquerque
Ciência Hoje On-line
12/02/04