Colchão é lugar predileto de ácaros

Para quem prefere dormir acompanhado, os resultados de um estudo recente podem servir de consolo: o colchão é o local com a maior concentração de ácaros em uma casa — são em média 950 animais por grama de poeira, se considerada apenas a parte superior da cama. O estudo, realizado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), analisou a distribuição da fauna acarina em 58 residências de diversos níveis sociais daquela cidade.

A espécie mais comum de ácaro nas residências é a Dermatophagoides pteronyssinus

Ácaros são culpados por 80% das alergias respiratórias do homem. A alergia é provocada pelas fezes do animal. As crises podem ser desencadeadas por uma concentração igual ou superior a 500 ácaros por grama de poeira, segundo Celso Henrique de Oliveira, que desenvolveu a pesquisa ao lado de Raquel Soares Binotti. Na parte inferior do colchão (próxima ao estrado) das casas analisadas, foi encontrada uma média de 3900 indivíduos por grama de poeira. “A dificuldade de acesso doméstico a esse espaço, a baixa luminosidade e a maior estabilidade climática do local são possíveis explicações para essa concentração”, afirma Oliveira.

Os cientistas coletaram, com a ajuda de um aspirador de pó portátil doméstico, amostras de poeira fina em locais específicos das residências estudadas (em todas foi constatada a ocorrência de ácaros). Além da parte inferior do colchão, aparecem no ranking de preferência dos ácaros a área superior do mesmo, sofás (com média de 900 indivíduos/grama de poeira), tapetes (750 ácaros/g), despensas (450 ácaros/g) e cortinas (350 ácaros/g). No sofá de uma única casa analisada, foram encontrados 40 mil ácaros/g.

Os pesquisadores coletaram no total 600 lâminas, com uma média de 7,5 ácaros em cada. Entre os 3500 indivíduos coletados, os pesquisadores encontraram 18 espécies. A mais comum foi a Dermatophagoides pteronyssinus , com 54% das ocorrências. “Sua presença nos colchões é estatisticamente significativa e justificável, pois essa espécie se alimenta de escamas de pele humana”, lembra o médico. A Blomia tropicalis foi a segunda mais freqüente (14%). Segundo Oliveira, essa espécie tem se tornado das mais comuns em climas tropicais nos últimos 30 anos.

Os cientistas da Unicamp avaliaram também nas casas estudadas aspectos como o tipo de piso (madeira, carpete, cerâmica) ou sinais de umidade nas paredes por infiltração ou mofo. “Os acarídeos encontraram condições favoráveis para se reproduzir em área urbana”, aponta Oliveira. “O ambiente doméstico é ideal para estabelecerem seus ninhos e se multiplicarem rapidamente.” Ele alerta para o aumento das alergias respiratórias no inverno: “em clima seco, a poeira fica mais leve e fácil de ser aspirada”.

Embora seja impossível eliminar totalmente os ácaros, é viável reduzir sua população com a adoção de simples práticas de higiene. “Envolver o colchão com uma capa emborrachada de zíper ou virá-lo a cada 15 dias são medidas eficientes”, afirma Oliveira.

Maria Ganem
Ciência Hoje on-line
22/05/03