Colisão de asteróides selou destino de dinossauros

Representação artística da colisão de dois asteróides há 160 milhões de anos. O maior tinha 170 km de diâmetro, e o menor, 60 km (arte: Don Davis / Southwest Research Institute).

O destino dos dinossauros foi selado há cerca de 160 milhões de anos, antes mesmo do surgimento de muitas das espécies que reinaram sobre o planeta. O choque entre dois grandes asteróides ocorrido nessa época é a provável origem do objeto que caiu na Terra cem milhões de anos depois, motivando o episódio de extinção em massa que dizimou inúmeras espécies de plantas e animais. A descoberta foi feita por geólogos que usaram simulações de computador para reconstituir a origem de uma família de asteróides do Sistema Solar.

O estudo ajuda a entender o chamado episódio de extinção K/T, ocorrido entre o final do período Cretáceo e o início do Terciário, por volta de 65 milhões de anos atrás. A teoria mais aceita para explicar esse evento defende que ele foi causado pelo impacto de um grande asteróide com a Terra, que teria levantado uma imensa nuvem de poeira, bloqueando a luz do Sol e afetando profundamente o equilíbrio ecológico do planeta. A cratera de Chicxulub, no México, com 180 km de diâmetro, é apontada como o local mais provável da queda desse asteróide.

A equipe do geólogo William Bottke, do Instituto de Pesquisa do Sudoeste, em Boulder (EUA), afirma ter mais de 90% de certeza de que esse objeto se originou em uma colisão ocorrida há 160 milhões de anos no cinturão de asteróides, situado entre as órbitas de Marte e Júpiter. A conclusão foi tirada após o grupo usar um modelo computacional para rastrear a origem dos asteróides da chamada família Baptistina, formada por objetos de órbita e composição similares. O trabalho foi publicado esta semana na Nature .

O grupo analisou a órbita desses asteróides e pôde retraçar sua trajetória desde o evento que levou à sua formação. Os cálculos da equipe mostraram que a família Baptistina surgiu provavelmente da colisão de dois asteróides, um com 170 km de diâmetro e outro com 60 km. O choque teria acontecido a uma velocidade aproximada de 11 mil km/h, gerando algumas centenas de corpos com mais de 10 km de diâmetro e milhares de fragmentos com mais de 1 km cada.

Fragmentos gerados pelo choque de asteróides descrito pelos geólogos seriam responsáveis pela formação das crateras Tycho, na Lua, e Chicxulub, no México (arte: Don Davis / Southwest Research Institute).

A simulação da trajetória dos fragmentos mostrou ainda que alguns deles tiveram sua órbita desviada do cinturão de asteróides, entrando em rota de colisão com a Terra e a Lua. O grupo afirma que é muito provável que um desses fragmentos tenha sido responsável pela formação, há 109 milhões de anos, da cratera Tycho, na Lua, com 85 km de diâmetro.

Composição incomum
O mais forte indício de que um desses fragmentos foi o responsável pela formação da cratera de Chicxulub, no México, é a composição incomum dos asteróides da família Baptistina: eles têm um teor de água e compostos orgânicos acima da média, configurando o que os geólogos chamam de condritos carbonáceos. E o tipo de asteróide que, acredita-se, gerou o impacto K/T é justamente um condrito carbonáceo com 10 km de diâmetro.

Para que se tenha mais certeza sobre a origem desse asteróide, Bottke afirma que é preciso investigar mais crateras formadas por volta de 100 milhões de anos atrás, no auge da chuva de asteróides causada pela colisão descrita por sua equipe. “Esperamos que a composição dos asteróides que fizeram essas crateras seja similar à do objeto que gerou o impacto K/T”, disse ele à CH On-line . “Caso contrário, nossa hipótese pode não estar correta.”

O trabalho de Bottke é importante ao mostrar como colisões ocorridas há dezenas de milhões de anos no cinturão de asteróides podem afetar de forma prolongada o sistema Terra-Lua. “Se estivermos certos, cerca de 20% dos objetos nas proximidades da Terra vieram dessa colisão particular”, afirma o geólogo. “E isso nos diz algo importante sobre sua composição.” 

Bernardo Esteves
Ciência Hoje On-line
05/09/2007