Dinossauros bico-de-pato

 

Que os dinossauros compõem um grupo bem variado de répteis todo mundo sabe. Aliás, a variedade de formas é justamente um dos grandes motivos pelos quais os dinossauros tanto fascinam as pessoas. Mas quem já ouviu falar em dinossauros bico-de-pato? Os hadrossauros – um termo mais técnico para os dinossauros descritos acima – são um grupo cujas estranhíssimas adaptações anatômicas ainda são alvo de muita discussão entre os pesquisadores.

A espécie mais antiga incluída no grupo Hadrosauridae é Secernosaurus koerneri, cujos restos foram encontrados em camadas de cerca de 94 a 92 milhões de anos na Argentina. Porém, a maioria das mais de 40 espécies de hadrossauros conhecidas viveu entre 75 e 65 milhões de anos atrás, incluindo o maior representante do grupo – Shantungosaurus giganteus, que chegava a ter 15 metros de comprimento e foi encontrado em Shandong, na China. Outro achado interessante foi Gryposaurus monumentensis, encontrado em Utah (Estados Unidos), que possuía um esqueleto formado por ossos comparativamente mais pesados e uma mandíbula mais maciça.

Além da Ásia e das Américas do Norte e do Sul, hadrossauros foram coletados em depósitos da Indochina, América Central e Europa. Sobretudo nos Estados Unidos e no Canadá, restos desses animais são muito comuns: centenas de ossos já foram descobertos, o que faz desse grupo de dinossauros um dos mais bem conhecidos até o momento.

Focinho e dentes peculiares
Em linhas gerais, as características mais facilmente perceptíveis de um dinossauro classificado dentro do grupo Hadrosauridae são a configuração particular do seu focinho – bastante alargado, o que explica a designação popular de dinossauros bico-de-pato – e os seus dentes. Estes são numerosos e dispostos em um arranjo bem complexo, onde cada dente é substituído de forma rápida, alternada e contínua por toda a vida do animal. Quando se depararam com os primeiros restos dentários desses animais, os paleontólogos logo reconheceram que essa adaptação estava ligada ao seu hábito alimentar: eles eram exclusivamente herbívoros.

A disposição dentária dos hadrossauros representa um avanço considerável sobre o grupo do qual eles descendem, que são os dinossauros iguanodontes. Aliás, uma curiosidade: enquanto os dinossauros iguanodontes eram predominantes durante os períodos Jurássico e Cretáceo Inferior, com algumas poucas formas chegando ao Cretáceo Superior, os hadrossauros predominavam no Cretáceo Superior. Isso levou diversos pesquisadores a levantar a hipótese de que, quando surgiram, os hadrossauros começaram a competir com os iguanodontes e, como eram melhor adaptados para se alimentar de plantas, passaram a ser os herbívoros dominantes.

Entre as adaptações peculiares dos hadrossauros estão as projeções em seu crânio. Alguns, como o Corytosaurus do Canadá, tinham uma espécie de ‘capacete’ com crista na parte superior da cabeça. Outros, como o Tsintaosaurus spinorhinus da China, tinham uma espécie de chifre. Mas o mais bizarro mesmo era o Parasaurolophus, cujos restos foram encontrados no Canadá e nos Estados Unidos e que tinha uma projeção iniciada na parte anterior do crânio e estendida para a parte posterior.

Entre as mais diversas hipóteses sobre a função dessas estruturas, uma tem sido cada vez mais aceita pelos pesquisadores: a de que pelo menos algumas dessas cristas, que eram ocas, funcionavam como câmeras de ressonância. Ou seja: esses animais poderiam se comunicar e o som produzido estaria diretamente relacionado com a forma e o tamanho dessas projeções cranianas.

Um último hadrossauro que vale a pena ser destacado é o Maiasaura. Uma quantidade extraordinária de exemplares desse gênero foi encontrada em Montana (Estados Unidos), desde animais muito jovens – verdadeiros ‘bebês’ dinossauros – a formas adultas. Esse achado, realizado por um dos mais famosos caçadores de dinossauros do mundo, o norte-americano John Horner, permitiu que se tivesse uma exata noção da evolução de um dinossauro, desde seu nascimento até chegar à sua forma adulta. Além disso, os exemplares de Maiasaura levantaram a hipótese de que pelo menos alguns dinossauros viviam em bandos e cuidavam dos seus filhotes.

Apesar de comuns nos continentes ao norte da linha do Equador, os hadrossauros eram raros nos demais pontos do planeta. No Brasil, ainda não se tem nenhum registro desse grupo. Mas, pessoalmente, acredito que, mais dia, menos dia, eles também serão encontrados no nosso país. Em algum momento houve uma ligação entre os continentes do norte e a América do Sul e alguns paleontólogos sustentam que os hadrossauros poderiam ter migrado para cá. Afinal, eles já foram encontrados na Argentina, que é logo aqui do lado…

Alexander Kellner
Museu Nacional / UFRJ
Academia Brasileira de Ciências
04/01/2008

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Paleocurtas
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