Embora o Japão tenha uma das maiores economias mundiais, pode-se afirmar que ele é um dos países mais pobres do mundo quando o assunto é paleontologia. A própria geologia japonesa – com grande quantidade de rochas ígneas, onde os fósseis não se preservam –, aliada ao tamanho comparativamente pouco extenso do seu território, faz com que qualquer achado paleontológico no país seja muito comemorado pelos pesquisadores.
Por outro lado, existe um grande interesse da população por assuntos ligados aos organismos que viveram no passado distante do nosso planeta. Dinossauros, pterossauros e mamíferos gigantes (a megafauna do Pleistoceno) despertam a curiosidade da população nipônica de tal forma que há uma verdadeira indústria de exposições de paleontologia no país. Apesar de não existirem dados estatísticos, os colegas japoneses afirmam que, nos últimos 20 anos, de uma a três mostras de grande porte foram realizadas anualmente no país. Naturalmente, como ocorre em todo o mundo, o destaque são os dinossauros.
A primeira participação brasileira em uma exposição dessa natureza aconteceu em 1998. Financiada pelo Yomiuri Shimbun – o principal jornal do Japão – e pelo Museu Nacional da Natureza e Ciência, a exposição Dinossauros do Gondwana reuniu em sua primeira versão descobertas realizadas na Austrália, na Argentina e em diversos países da África.
O Brasil, que entrou no “final do segundo tempo”, teve uma participação discreta, com algumas peças do Museu de Ciências da Terra (DNPM) e do Museu Nacional (UFRJ). Quando voltaram para o Brasil, essas e outras peças foram a base da exposição No Tempo dos Dinossauros, cuja repercussão mudou totalmente a atenção que a sociedade brasileira dispensava às pesquisas realizadas no país.
Dinossauros brasileiros no Japão
Em março deste ano, foi inaugurada a segunda versão da exposição dos dinossauros do Gondwana, realizada nos mesmos moldes da mostra de 1998. Porém, a participação brasileira agora é maior. O principal destaque é o Maxakalisaurus topai – popularmente conhecido como Dinoprata –, montado em 2006. Também está sendo exibido o dinossauro carnívoro Santanaraptor placidus, que possui preservados, além dos ossos, parte do couro, músculos e vasos sanguíneos.
Ainda entre os dinossauros brasileiros, a mostra incluiu os exemplares de Trigonosaurus pricei e Baurutitan britoi. Trata-se de espécies de dinossauros herbívoros do grupo dos titanossauros que haviam sido encontradas há muito tempo pelo paleontólogo Llewelly Price, porém somente descritas em 2005. As características principais do material brasileiro são sua excepcional preservação e o fato de os elementos terem sido encontrados articulados – e não isolados, o que é comum em animais de grande porte como os titanossauros.
As descobertas brasileiras contam ainda com uma área da exposição totalmente destinada aos pterossauros encontrados na Bacia do Araripe, sobretudo no Ceará. Além de serem exibidas algumas peças descritas recentemente e outras ainda inéditas, o maior destaque é dado a Thalassodromeus sethi, representado por seu esqueleto montado e pela reconstrução de sua cabeça em vida.
Espécies argentinas e africanas
A mostra também reúne várias descobertas realizadas na Argentina, incluindo um novo dinossauro primitivo, que está para ser anunciado nas próximas semanas, segundo os autores. O destaque argentino é o Mapusaurus rosae, descrito pelos colegas Rodolpho Coria e Philip Currie. Ao contrário do que acontece na maioria dos achados, Mapusaurus rosae é conhecido por pelo menos sete indivíduos de distintos tamanhos – o maior com mais de 10 metros de comprimento –, todos encontrados em uma única área da província de Neuquén, o que sugere que grandes terópodes também poderiam andar em bandos.
Outro dinossauro argentino presente na mostra é o carnívoro Aucasaurus garridoi, também de Neuquén. Por ser conhecido por um esqueleto muito completo, esse exemplar contribuiu para melhorar o conhecimento sobre a diversidade morfológica do grupo dos chamados abelissauros.
Ainda na parte das novas descobertas, a mostra apresenta resultados de pesquisas feitas na África por distintos grupos de pesquisadores norte-americanos. Destaca-se o Majungasaurus crenatissimus, representado por um crânio completo ainda não estudado formalmente.
Naturalmente uma exposição assim nunca será totalmente completa. Os crocodilomorfos, grupo sobre o qual as pesquisas brasileiras avançaram bastante nos últimos 10 anos, não puderam ser incluídos desta vez – também no Japão os recursos têm limites, sobretudo com a atual situação econômica mundial.
Repercussão notória
Mesmo com as lacunas, a mostra está se revelando um sucesso. Em seu primeiro dia, o número de visitantes passou de 5.600 – e tem sido assim até a presente data, segundo dados não oficiais. Essa grande visitação não é de se estranhar: quem não gostaria de ter reunidas em um mesmo espaço algumas das principais descobertas paleontológicas realizadas pelo mundo?
A parceria entre instituições de pesquisa e a iniciativa privada no campo da paleontologia infelizmente ainda não ocorre no Brasil. Já imaginaram o sucesso que seria uma exposição itinerante com as principais descobertas de fósseis no mundo em nossas cidades? Certamente essa seria uma maneira efetiva de divulgar a pesquisa científica no nosso país. Quem sabe um dia…
Alexander Kellner
Museu Nacional / UFRJ
Academia Brasileira de Ciências
03/04/2009
Veja imagens na Galeria
Paleocurtas
As últimas do mundo da paleontologia
(clique nos links sublinhados para mais detalhes)