Cartaz do simpósio realizado em Santa Maria (RS).
Termina hoje o V Simpósio Brasileiro de Paleontologia de Vertebrados, realizado desde o dia 2 de agosto na cidade gaúcha de Santa Maria. Essa reunião acontece a cada dois anos e tem como objetivo reunir os pesquisadores que se dedicam à pesquisa dos vertebrados fósseis do Brasil. Nossa coluna deste mês descreve brevemente alguns dos quase 70 trabalhos apresentados nesta edição do simpósio. Os resumos do evento foram publicados na revista Ciência e Natura , da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que hospeda o simpósio.
– Uma revisão dos anfíbios temnospôndilos da América do Sul foi apresentada por Sérgio Dias da Silva, da Universidade Federal do Tocantins, e Eliseu Dias, do Centro Universitário Positivo de Curitiba. Esses anfíbios são encontrados em rochas do Permiano ao Triássico no Brasil, Argentina e Uruguai e, segundo os autores, podem ser utilizados para auxiliar na correlação de camadas na falta de outros fósseis, como microfósseis.
– A paleoarte e sua interface com a ciência foram o tema da apresentação da paleoartista Luiza Corral Ponciano, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Segundo ela, é fundamental que os artistas que se interessam pela realização de reconstituições de animais extintos se atenham aos dados obtidos pelas pesquisas científicas que desejam retratar.
Exposição do artista Alexsandro Garcia, que faz esqueletos de dinossauros e pterossauros de brinquedo para montar.
– Um novo modelo que poderia explicar a preservação de pequenos vertebrados como cinodontes não-mamalianos e esfenodontídeos (grupo de répteis) nos depósitos da Formação Caturrita foi apresentado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Segundo Marina Soares e Cesar Schultz, é possível que esses pequenos animais tenham sido engolidos por inteiro e depois regurgitados por dinossauros – processo semelhante ao que se verifica com as corujas atuais. O estudo ainda se encontra em fase preliminar e mais estudos serão feitos para confirmar essa hipótese.
– A descoberta de um novo gavialídeo gigante em depósitos do Mioceno da parte norte da Venezuela foi anunciada por Douglas Riff, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), e Orangel Aquilera, da Universidade Nacional Experimental Francisco de Miranda, na Venezuela. Segundo os autores, o novo animal – ainda sem nome – competia em termos de tamanho com o Purussaurus encontrado em depósitos de idade semelhante no Acre, atingindo aproximadamente 12 metros de comprimento.
– O autor desta coluna apresentou alguns dos temas mais debatidos atualmente ligados ao estudo dos pterossauros. Em destaque, foram discutidas as dúvidas sobre a origem dos pterossauros e a situação do grupo chamado de Tapejaridae, encontrado em rochas do Cretáceo no Brasil, na África e na China.
– Uma revisão dos mamaliformes basais – animais que estão na linha evolutiva dos mamíferos – foi realizada por Fernando Abdala, da Universidade de Witwatersrand, na África do Sul. Embora o trabalho se concentre nas formas encontradas na Bacia do Karoo, na África do Sul, o pesquisador fez várias comparações com formas características dos depósitos Triássicos do Rio Grande do Sul.
O paleoartista Maurilio Oliveira (à direita), ilustrador assíduo desta coluna, expõe algumas de suas esculturas.
– Uma revisão do grupo de mamíferos chamado Macraucheniidae foi realizada por pesquisadores da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul. Carolina Scherer, Vanessa Pitanga e Ana Ribeiro relataram as ocorrências desses animais conhecidas até a presente data, que estão concentradas no Nordeste, com a espécie Xenorhinotherium bahiense , e limitadas no Rio Grande do Sul, onde foi descrito o Macrauchenia patachonica . As pesquisadoras anunciaram que serão intensificadas as coletas em depósitos do Pleistoceno no Sul do país, com o objetivo de encontrar novos exemplares.
– Um estudo sobre peixes do grupo dos caraciformes (popularmente conhecidos como lambaris) encontrados na Bacia de Aiuruoca, no sul de Minas Gerais, em depósitos formados entre 35 e 30 milhões de anos atrás (Eoceno-Oligoceno) foi feito por Fernando Weiss e Maria Malabarba, ambos da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). O material encontrado está bem preservado e consiste em peixes pequenos com um tamanho que varia de 5 a 9 centímetros. Os caraciformes são peixes típicos de água doce, o que indica que os depósitos onde os fósseis foram encontrados se formaram em um ambiente lacustre.
– Uma interessante palestra sobre a Bacia Bauru, onde foram encontradas dezenas de vertebrados fósseis, desde peixes até dinossauros e aves, todos do Cretáceo, foi proferida por Reinaldo Bertini, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Rio Claro. Segundo o pesquisador, cabe destaque para a fauna de crocodilomorfos encontrada nestes depósitos, uma das mais diversificadas do mundo.
– O simpósio foi marcado ainda por uma homenagem póstuma do coordenador da comissão organizadora, Átila da Rosa, ao professor Romeu Beltrão (1913-1977), recebida pelo seu filho, Aécio Beltrão. Natural de Santa Maria, Romeu Beltrão foi um grande incentivador da paleontologia do Rio Grande do Sul, particularmente nas décadas de 1950 e 1960.
Alexander Kellner
Museu Nacional / UFRJ
Academia Brasileira de Ciências
04/08/2006