Todos que assistiram ao filme Jurassic Park , de Steven Spielberg, sabem o que é o âmbar. De forma simplificada, essa substância é basicamente resina vegetal fossilizada. No filme, é por meio de pernilongos preservados no âmbar que se obtém o sangue dos dinossauros que forneceram seu DNA para serem revividos. Bom, isto é a ficção.
Na realidade, porém, existe um fato: fósseis preservados no âmbar são os melhores em todo o registro geológico e, de certa forma, podem ser considerados um sonho para todos os pesquisadores que se dedicam a estudar a diversidade da vida nos tempos pretéritos.
Não deve ser muito difícil imaginar a satisfação da equipe liderada por Pierre-Olivier Antoine, do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) em Toulouse, na França, ao encontrar fósseis preservados no âmbar. E isto em plena floresta amazônica!
Mais precisamente, o material descrito pelos pesquisadores e publicado com destaque pela revista PNAS é procedente da localidade de Tamshiyacu, situada às margens do rio Amazonas, a cerca de 30 quilômetros de Iquitos, no Peru. O material foi encontrado em rochas formadas entre 18 e 10 milhões de anos atrás e contém um raro registro de um ecossistema que existia no passado na floresta amazônica.
Ao todo, foram encontrados quase 30 pedaços de âmbar, dos quais três eram de um tamanho maior (com cerca de 150 gramas). Todos tinham algum tipo de fósseis, sobretudo polens, cianobactérias e outros organismos unicelulares. Em dois deles foram encontrados restos de invertebrados – besouros, mosquitos e vespas são alguns dos achados. Ao todo, são insetos de 13 famílias e três espécies de aracnídeos, representando organismos novos para a ciência.
Nunca é demais relembrar que esses invertebrados – insetos e aracnídeos – são uma raridade dentro do registro fóssil, por serem desprovidos de partes duras como esqueletos e conchas. Para se ter uma idéia, antes desses exemplares havia apenas três outros depósitos de âmbar na América do Sul – nenhum deles, no entanto, era tão rico como o encontrado em Tamshiyacu.
Mata quente e úmida
O estudo do material ainda está no início, mas já revelou alguns dados interessantes. Várias árvores podem produzir o âmbar, sobretudo as coníferas. Apesar de não se saber ao certo exatamente qual espécie produziu o âmbar em questão, sabe-se pelos fósseis encontrados que a região tinha uma floresta diferente da atual, com grandes áreas abertas, conforme indicam polens de gramíneas.
Os estudos preliminares demonstram que, já naquela época, havia uma especial diversidade de plantas e insetos na região amazônica, indicando que se tratava de uma região quente e úmida, bem tropical desde aquele tempo (Mioceno).
Com pode ser visto pelas imagens ao lado, o material encontrado está muito bem preservado. Poucas descobertas deixam os cientistas tão entusiasmados quanto fósseis preservados em âmbar.
Também é interessante lembrar que as camadas em que eles foram encontrados, que recebem o nome de Formação Pebas, no Peru, são correspondentes às rochas da Formação Solimões, encontrada no Brasil. Assim, a possibilidade serem descobertos fósseis preservados em âmbar na parte da floresta amazônica no nosso país é uma possibilidade real – basta, agora, procurar por eles!
Alexander Kellner
Museu Nacional / UFRJ
Academia Brasileira de Ciências
07/09/2007
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