Em novembro de 2004 foi inaugurado o Museu de Paleontologia de Marília. Situado no centro-oeste do estado de São Paulo, esse museu surgiu a partir da verificação da existência naquela região de afloramentos contendo fósseis. As primeiras descobertas foram realizadas por volta de 1993, com o achado de ossos de dinossauros no norte da cidade. Mas foram os achados de crocodilomorfos que puseram a região de Marília no cenário da paleontologia nacional.
Em 1996, William Nava, pesquisador formado em história pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Assis, examinou rochas nas proximidades do rio do Peixe, na parte sul de Marília. Para sua surpresa, ele se deparou com o esqueleto parcial de um crocodilomorfo primitivo, que anos mais tarde foi descrito pelos pesquisadores Reinaldo Bertini, da Unesp, e Ismar Carvalho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – o réptil foi batizado como Mariliasuchus amarali .
Depois disso foram encontrados mais fósseis na mesma região. Entre eles, havia ovos que foram atribuídos a crocodilomorfos – um fato raro em todo o mundo. Estava claro para a comunidade científica que a região de Marília é especial, com grande potencial para novos achados paleontológicos.
Com bastante sensibilidade para a importância desses depósitos fossilíferos, a prefeitura municipal criou e mantém o Museu de Paleontologia de Marília. Situado anexo à Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, ele ocupa uma área de aproximadamente 50 m 2 e abriga dezenas de fósseis, 40 deles em exposição. Ele pode ser considerado o embrião de uma excepcional iniciativa, já que difunde a paleontologia na região. Já recebe anualmente mais de 5 mil visitantes de diversas partes, inclusive de fora do estado. Com o apoio da prefeitura e da secretaria da cultura e turismo – que financiam inclusive a busca de mais fósseis –, esse museu tende a crescer, contribuindo para a difusão da pesquisa paleontológica no nosso país.
Homenagem
Graças a esse apoio, novas descobertas têm sido realizadas. Hoje o Museu de Paleontologia de Marília mantém estreitas relações com vários grupos de pesquisa no país. Em reconhecimento ao trabalho pioneiro de William Nava, que atualmente coordena as atividades do museu, os pesquisadores Pedro Nobre e Ismar Carvalho, do Instituto de Geociências da UFRJ, lhe dedicaram o nome de uma nova espécie de crocodilomorfo que obteve ampla divulgação na mídia: o Adamantinasuchus navae . A homenagem trouxe ainda mais atenção para a cidade e para o museu.
O mais interessante dessa iniciativa é constatar que finalmente o Brasil começa a abrigar pequenos museus ligados à paleontologia. Isso já ocorre em diversos países onde a pesquisa de fósseis está num patamar superior ao do nosso país em termos de volume de trabalhos e contribuições científicas, como Canadá, Alemanha, Estados Unidos, China e a nossa vizinha Argentina.
Por trás do avanço das ciências naturais e da terra nesses países, está uma maior conscientização da sociedade em relação à importância da pesquisa científica. E são os museus e instituições afins que fazem a ponte entre público e academia, contribuindo para a difusão da ciência.
Esta é, inclusive, uma das metas do Ministério de Ciência e Tecnologia: fazer com que a sociedade tenha mais atenção com a ciência básica. Felizmente, os investimentos nas pesquisas em paleontologia têm crescido nos últimos anos devido à iniciativa do CNPq e das fundações de amparo à pesquisa de diversos estados (como Faperj, Fapesp, Fapemig).
Esperamos que o Museu de Paleontologia de Marília possa continuar o seu desenvolvimento e servir de estímulo para que iniciativas como esta sejam criadas em outras regiões do país!
Para mais informações sobre o Museu de Paleontologia de Marília, acesse a página www.dinossaurosemmarilia.fundanet.br .
Alexander Kellner
Museu Nacional / UFRJ
Academia Brasileira de Ciências
04/05/2007
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