Por que suas dietas nunca dão certo?

Família , tela do colombiano Fernando Botero, que costuma representar personagens obesos em suas pinturas e esculturas (reprodução).

Talvez você ache que precisa perder alguns quilinhos e esteja se sentindo culpado por não estar fazendo uma dieta. Se for assim, saiba que você não está sozinho: há uma tendência de ganho de peso entre pessoas de todas as faixas etárias e cerca de 1,3 bilhão de indivíduos no mundo são considerados obesos. O consumo de alimentos de má qualidade nutricional e o sedentarismo estão relacionados com essa epidemia mundial, mas evidências recentes indicam que a obesidade não é apenas um processo comportamental e está associada também a uma desregulação fisiológica.

Seria a obesidade uma doença? Esta é uma questão controversa, pois esse fenômeno envolve o consumo voluntário de alimentos cujo excesso pode causar problemas para a saúde. Associados à obesidade estão vários fatores, como hipertensão, arteriosclerose, dislipidemia e diabetes melito tipo 2, que ocasionam uma série de problemas para a saúde dos portadores.

A obesidade caracteriza-se por uma desregulação entre a captação e a utilização de nutrientes. Os alimentos consumidos repõem componentes envelhecidos e danificados do organismo ou são usados na produção de energia para as atividades metabólicas e termorregulação. Porções excedentes podem ser armazenadas para períodos de escassez e é aí que reside o problema: o excesso de alimentos consumidos além das necessidades se acumula na forma de gordura nos adipócitos.

Os adipócitos são células que se originam da diferenciação de fibroblastos, o tipo celular mais comum do tecido conjuntivo. Apesar de parecerem pouco ativos, os adipócitos são células que apresentam um metabolismo dinâmico e são responsáveis pelo armazenamento e liberação de gordura (triglicerídeos) para utilização como fonte de energia pelos tecidos do organismo. Além disso, os adipócitos são essenciais para outras atividades metabólicas, como a produção e regulação da atividade de alguns hormônios.

Não há, portanto, uma forma de eliminar definitivamente seus ‘pneuzinhos’ – por exemplo, por meio de uma lipoaspiração –, pois seus adipócitos e seus fibroblastos precursores permanecem em seu tecido conjuntivo e podem, se você não alterar seus hábitos alimentares, novamente se encherem de gordura.
Dieta
Ocorre um fenômeno interessante quando você faz dieta: se você restringir parte dos alimentos consumidos, seu organismo irá, nas primeiras duas ou três semanas, retribuir seus esforços com uma perda significativa de peso. Porém, posteriormente, seu corpo irá se adaptar a essa nova situação, utilizando melhor os nutrientes dos alimentos consumidos e diminuindo seu gasto energético. Com isso, os resultados de sua dieta serão menores. E o pior vem a seguir: depois que você resolve que já é tempo de voltar se alimentar em seu ritmo e quantidade normal, você irá ganhar muito rapidamente todo o peso perdido e, talvez, até mais um pouco.

A explicação desse processo talvez resida em nossa evolução. Durante a maior parte da história de nossa espécie, os homens tiveram que lutar contra um clima inóspito, fome e predadores. Acredita-se que os nossos antepassados que fossem mais eficientes na utilização ou armazenamento da energia dos alimentos para utilização em períodos de necessidade tenham obtido um sucesso evolutivo, tendo um número maior de filhos e contribuído mais para a formação da população humana atual.

Camundongo normal (direita) ao lado de um espécime com uma mutação em um gene envolvido na produção da leptina (foto: Oak Ridge National Laboratory)

Estudos com gêmeos e com camundongos demonstram que a obesidade possui um componente genético. A descrição de mutações em genes envolvidos na produção de leptina e de seu receptor – cujos níveis relacionam-se diretamente com os níveis de tecido adiposo e com o estado energético do organismo – deram início aos estudos modernos da obesidade no começo dos anos 1990. Falhas na sinalização por leptinas são ’entendidas‘ pelo cérebro como carência alimentar e promovem a sensação de fome e de conservação de energia mesmo em casos de obesidade extrema.

Porém, os níveis de leptina são considerados reguladores a longo prazo do apetite, pois não flutuam substancialmente em resposta à alimentação. Existem outros fatores que atuam como reguladores do apetite, como o hormônio produzido pelo estômago conhecido como grelina, que parece estimular o processo alimentar. Outros hormônios secretados pelo intestino – como a colequinina, o peptídeo YY e o peptídeo similar ao Glucagon – parecem regular a sensação de saciedade.

Bloqueio da grelina
Um artigo publicado recentemente na revista Proceedings of the National Academy of Sciences relata um estudo de cientistas do Instituto de Pesquisa Scripps, de San Diego (Califórnia/EUA), chefiados por Kim Janda. Os pesquisadores desenvolveram uma estratégia experimental contra a obesidade em camundongos baseada no bloqueio imunológico da ação de grelina e demonstraram surpreendentemente que, ao contrário do que se pensava, esse hormônio não apenas regula o apetite, mas também pode estar relacionado com o controle do acúmulo de gordura corporal.

A descoberta desses componentes hormonais indica que vontade e determinação em alguns casos não são suficientes para combater a obesidade e que podem existir diversos problemas metabólicos associados a esse processo. Portanto, da próxima vez que você se sentir culpado por estar acima do peso ou ouvir alguma insinuação a esse respeito, lembre-se de que existem uma série de outros fatores envolvidos nesse processo, muitos dos quais estão além de sua força de vontade.
 

Jerry Carvalho Borges
Colunista da CH On-line
25/08/2006