Protagonista e vilão dos tempos modernos

Os plásticos podem ser empregados na confecção dos mais diversos produtos a um baixo custo, o que contribuiu para a disseminação de seu uso. Mas o descarte inadequado desse material tem gerado graves impactos ambientais.

Os plásticos são responsáveis inegavelmente por uma revolução na maneira como vivemos nos últimos anos. As conveniências desse material, que possui diversas formulações que podem ser empregadas a um baixo custo para usos diversos, fizeram com que ele se tornasse, mais do que qualquer invenção do homem, o símbolo de nossa vida moderna. Utensílios domésticos, brinquedos, peças automotivas, partes de equipamentos eletrônicos, calçados, embalagens, pisos, revestimentos e, até mesmo, próteses e fios de sutura introduzidos em nossos corpos podem ser confeccionados com plásticos.

Os plásticos, contudo, representam uma das grandes incoerências de nosso estilo de vida. Apesar de suas enormes vantagens econômicas, esse polímero derivado do petróleo é considerado um dos maiores vilões para a natureza no nosso planeta. Por isso, tem sido cada vez mais questionado o enorme preço que a nossa sociedade tem que pagar pela utilização desse material.

A “era dos plásticos” começou em 1909, após a descoberta pelo químico belga Leo Baekeland (1863-1944) das resinas formol-fenólicas, cuja exploração com o nome de baquelite, a partir de 1920, deu início a essa revolução em nosso modo de vida.

Durante a Segunda Guerra Mundial, a indústria dos plásticos se expandiu devido à fabricação em grande escala do PVC, para substituir a borracha natural em diversas aplicações. Nessa época, foi também desenvolvido o nylon, a partir de pesquisas realizadas pelo químico norte-americano Wallace Carothers (1896-1937). O nylon substituiu em parte as fibras têxteis naturais, particularmente a seda. As meias fabricadas com nylon foram um estrondoso sucesso de vendas, pois não amassavam, secavam rápido e eram baratas. Em apenas um ano, cerca de 64 milhões de pares de meias foram vendidos somente nos Estados Unidos.

A partir de 1950, com o crescimento da exploração do petróleo, diversos de seus derivados passaram a ser usados na síntese de polímeros empregados em numerosas matérias plásticas.

O petróleo é constituído por uma mistura de compostos orgânicos, principalmente hidrocarbonetos. Por meio do processo de destilação fracionada do óleo cru nas refinarias, são obtidos vários derivados, como o gás liquefeito, a gasolina, o querosene, o óleo diesel, as graxas parafínicas, os óleos lubrificantes, o piche e a nafta.

A partir da nafta, submetida a um processo de aquecimento na presença de catalisadores (chamado craqueamento térmico), são originadas várias substâncias denominadas petroquímicos básicos. Alguns desses compostos, como o etileno, o propileno, o butadieno, o buteno e o isobutileno, são transformados nos chamados petroquímicos finos (entre eles, o polietileno, o polipropileno e o policloreto de vinila), que podem ser modificados quimicamente e polimerizados para a formação das resinas plásticas. Dependendo das frações empregadas e das condições de reação utilizadas, pode-se obter uma enorme variedade de polímeros com propriedades específicas e que servem às mais diferentes aplicações.

Uso alavancado pela economia
O fator econômico foi um dos aspectos decisivos para a grande disseminação do uso do plástico, uma vez que é possível confeccionar os mais diferentes artigos e objetos de plástico com custo reduzido. Além disso, as propriedades isolantes das resinas plásticas permitem sua utilização na indústria elétrica e em vários outros campos.

Outra característica que contribuiu para difundir o emprego do plástico é sua grande resistência mecânica e térmica. Esse aspecto deve-se à disposição espacial dos polímeros plásticos, compostos por cadeias muito longas entrelaçadas, que formam um emaranhado que interage fortemente através de ligações químicas cruzadas.

Os plásticos são o segundo constituinte mais comum do lixo e podem levar séculos para se decompor totalmente.

Essa estabilidade estrutural dos polímeros plásticos lhes confere leveza e grande durabilidade, além de resistência à degradação pela luz solar, por substâncias químicas ou por organismos vivos. Alguns tipos de plásticos, por exemplo, necessitam de séculos para desaparecer. Por causa da dificuldade de degradação dos resíduos plásticos no meio ambiente, esses compostos são associados a diversos impactos ambientais.

Devido ao seu uso difundido, o plástico é atualmente o segundo constituinte mais comum do lixo, perdendo apenas para o papel. No Brasil, o consumo anual de plásticos está em torno de 21 kg por habitante. E, como os plásticos se decompõem muito lentamente, esse material tem uma representatividade elevada em lixões e aterros: integra de 4% a 7% da massa e de 15% a 20% do volume desses locais. Esse fato contribui para que aumentem os custos de coleta, transporte e disposição final do lixo coletado em nossas cidades.

Ao serem depositados em aterros e lixões, os plásticos prejudicam a decomposição dos materiais biologicamente degradáveis, pois criam camadas impermeáveis que afetam as trocas de líquidos e gases gerados pela degradação da matéria orgânica.

Além disso, deve ser lembrado que garrafas, embalagens e sacolas plásticas depositadas de forma incorreta acumulam água em seu interior e podem ser utilizadas como criadouros de larvas do mosquito Aedes aegypti, o vetor do vírus da dengue, uma virose que tem se convertido nos últimos anos na principal fonte de preocupação das autoridades sanitárias do país.

Outro problema associado aos plásticos é a sua queima sem controle, que provoca o desprendimento de gases prejudiciais à saúde. O PVC, por exemplo, ao ser queimado, libera cloro, que pode se transformar em ácido clorídrico e dioxinas, substâncias altamente tóxicas e cancerígenas.

Reutilização e reciclagem
Para evitar os problemas ambientais relacionados com o uso dos plásticos, devemos tomar atitudes que envolvam a redução do consumo desses polímeros, além de investirmos na sua reutilização e reciclagem. Devemos ainda buscar novos materiais para substituir os tipos de plásticos usados hoje.

Outra iniciativa importante é desenvolver novas rotas de síntese que utilizem como substrato recursos renováveis, como o álcool etílico extraído da cana-de-açúcar, que pode ser empregado na síntese de eteno, um composto muito usado na produção de plásticos. Os impactos do plástico no meio ambiente também poderiam ser minimizados com o uso de resinas que possam ser biodegradadas pela ação de microrganismos ou de elementos físicos como os ventos, a chuva e a luz.

No Brasil, por exemplo, estão sendo desenvolvidos plásticos biodegradáveis produzidos com resinas provenientes da cana-de-açúcar, do milho, do trigo e da batata, que se dissolvem em contato com a água ou a terra. Contudo, comparativamente, devido aos seus maiores custos de produção e ao pouco interesse por parte dos consumidores, a produção desses novos plásticos é ainda pequena.

No Brasil, 29% do total de plásticos separados nas cidades que fazem coleta seletiva são reciclados. A capacidade de reciclagem do país é ainda maior, mas não há uma destinação correta dos resíduos.

A reciclagem de plásticos é hoje uma atividade altamente lucrativa. No Brasil, são reciclados cerca de 16,5% dos resíduos plásticos, o que equivale a cerca de 200 mil toneladas por ano. Em média, o material corresponde a 29% do total de plásticos separados pelas cidades que fazem coleta seletiva.

A taxa de reciclagem de plástico na Europa está estabilizada em 22% há anos, apesar de essa prática ser regulada por lei e estar sujeita a multas pesadas em alguns países europeus caso não seja executada. Por outro lado, o Brasil, onde a reciclagem acontece de forma espontânea, ocupa o 4º lugar entre os países que mais reciclam plástico no mundo, ficando atrás apenas de Alemanha, Áustria e Estados Unidos. E, mesmo com o crescimento da reciclagem nos últimos 14 anos, segundo a Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet), o setor ainda é capaz de reciclar um volume 30% superior ao atual, sem a necessidade de qualquer investimento.

Ao contrário do que pode parecer, o mercado brasileiro experimenta uma falta de resíduos plásticos para serem reciclados. Isso se deve em parte à inexistência de políticas públicas eficazes para dar o destino adequado a esses resíduos considerados materiais “nobres”. Cabe a nós cobrar ações – e fazer a nossa parte – para reverter esse quadro, pois, além de economizar matéria-prima e energia para a produção de novos materiais plásticos, o reaproveitamento desses resíduos evita prejuízos ao meio ambiente, gera empregos e movimenta a economia. 

Jerry Carvalho Borges
Universidade do Estado de Minas Gerais
Denise Aparecida Hipólito
Graduanda do Curso de Engenharia Ambiental
Universidade do Estado de Minas Gerais – campus de Passos
06/06/2008

SUGESTÕES PARA LEITURA
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