‘Siga o meu olhar’ também funciona com macacos

Se você quer que alguém olhe para um determinado lugar, a estratégia usual é apontar a direção com o dedo — aliás, com aquele apropriadamente chamado indicador. Mas outra estratégia é igualmente eficaz — e mais discreta: olhar fixamente para aquele lugar.

“Siga o meu olhar” é uma mensagem tão poderosa que a tendência de qualquer pessoa é copiar o comportamento e olhar também para exatamente o mesmo ponto, e conferir o que há de tão interessante ali. Essa mudança do foco de atenção visual direcionada pelo olhar dos outros tem uma importância tão grande para a vida em sociedade — e não somente para apontar discretamente para algo ou alguém — que alguns a chamam um ’reflexo social’.

Pois bem: essa estratégia de comunicação silenciosa também funciona com macacos. Já se sabia que esses animais são capazes de orientar olhos e cabeça para onde outros macacos olham, mas, como em ciência é preciso medir e quantificar, além de observar, uma prova convincente surgiu somente agora. Na revista Current Biology de setembro, os neurocientistas Robert Deaner e Michael Platt, da Universidade Duke, nos EUA, mostram que tanto humanos quanto macacos résus orientam sua atenção visual para o lado indicado pelo olhar da fotografia de um macaco à sua frente.

“Ao ver o rosto do macaco aparecer, é impressionante a vontade que dá de olhar naquela direção”, diz Platt. Não dá para saber se os macacos sentem a mesma vontade — mas é bem provável que sintam, uma vez que homens e macacos mostraram no estudo a mesma tendência de fazer minúsculos movimentos com os olhos na direção indicada pelo olhar do macaco da foto, tão logo esta aparecia.

A descoberta é interessante não só por comprovar que macacos também têm ’reflexos sociais’ complexos comandados pelo cérebro, mas também por indicá-los como um modelo para o estudo de como o cérebro avalia as intenções de outras pessoas. Entender como funcionam no cérebro esses reflexos sociais deverá também ajudar a compreender o comportamento dos autistas, pessoas que tendem a não olhar as outras nos olhos, nem respondem a mensagens de “siga o meu olhar”.

Aliás, o melhor modelo de estudo, nesse caso, seria um… macaco autista. Será que alguém conhece um?

Fonte: Deaner RO, Platt ML. Reflexive social attention in monkeys
and humans . Current Biology 13, 1609-13 (2003).

Suzana Herculano-Houzel
O Cérebro Nosso de Cada Dia