O Falcarius utahensis era um animal de porte pequeno a mediano, com cerca de um metro de altura e quatro de comprimento. Tinha estruturas semelhantes às penas dos pássaros atuais, como mostra o desenho de Mike Skrepnick (clique na imagem para ampliá-la)
Uma das primeiras lições que um estudante de paleontologia interessado em dinossauros aprende é que todas as espécies classificadas no grupo dos terópodes são carnívoras. Bem, a regra terá que ser revista após o achado do Falcarius utahensis , que acaba de ser descrito por pesquisadores norte-americanos liderados por James Kirkland. O estudo, publicado na Nature de 5 de maio, descreve uma nova espécie de dinossauro encontrada em rochas de 130 milhões de anos pertencentes à Formação Cedar Mountain, no estado de Utah (EUA).

No alto, uma escultura do F. utahensis criada pelo artista John Moore e realizada pela empresa PaleoForms LLC. Embaixo, o paleontólogo James Kirkland, autor principal do estudo, ao lado de um modelo do esqueleto do dinossauro em tamanho real realizado pela Gaston Design, Inc.
A descoberta confirma também a suspeita levantada por outros pesquisadores de que esse grupo de répteis representa uma mudança no hábito alimentar dos terópodes, passando de carnívoros para herbívoros. Além dos dentes em forma de “folha” (geralmente associado a uma dieta vegetariana) e de outras feições anatômicas que sugerem que o Falcarius se alimentava de plantas, Kirkland e seus colegas descobriram que a bacia dessa espécie era expandida lateralmente, observação consistente com um aumento do volume intestinal necessário para que o animal pudesse processar as plantas das quais se alimentava.
Museu Nacional / UFRJ
Academia Brasileira de Ciências
04/05/05
Paleocurtas
As últimas do mundo da paleontologia
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Pesquisadores americanos e argentinos encontraram biomoléculas em restos de ovos de dinossauros titanossaurídeos (herbívoros com cauda e pescoço longos comuns no Gondwana, particularmente na América do Sul e na África). Os ovos eram procedentes da região de Auca Mahuevo, Neuquén, noroeste da Argentina, e continham restos de embriões com tecido mole. Essas condições extremamente raras no registro fóssil levaram os pesquisadores a examinarem a possibilidade de encontrar material orgânico nas cascas dos ovos. Os resultados, publicados nos Proceedings of The Royal Society B: Biological Sciences , demonstram mais uma vez o grande potencial de preservação do registro fossilífero.
Um novo fóssil surpreende a paleontologia: ovos foram encontrados dentro da bacia de um dinossauro! O material consiste em um esqueleto incompleto de uma espécie de terópodes do grupo Oviraptorosauria, proximamente ligado às aves, e foi encontrado em rochas da Formação Nanxiong, no sul da China. A descoberta, feita por pesquisadores do Canadá e de Taiwan, foi publicada na Science e ajuda a entender a reprodução dos dinossauros. Por um lado, esse oviraptorossauro possuía dois ovidutos funcionais, como os crocodilianos modernos. Porém, ao contrário destes, que põem vários ovos ao mesmo tempo, cada oviduto podia pôr apenas um de cada vez. Neste aspecto, esse dinossauro é similar às aves modernas, o que demonstra a complexidade reprodutiva desses répteis.
Entre 27 e 29 de junho de 2006 será realizado o 9o Simpósio de Ecossistemas Terrestres e Biota do Mesozóico na Universidade de Manchester, Inglaterra. Neste evento serão apresentados trabalhos que permitirão conhecer melhor os ecossistemas que existiram na era mesozóica, entre 248 e 65 milhões de anos atrás.
Entre 16 e 20 de maio, será realizada uma reunião científica para discutir a evolução dos tetrápodos que viveram em ambientes aquáticos (tetrápodos são vertebrados com quatro membros). Realizado a cada três anos, o encontro está na quarta edição e congrega os principais especialistas que estudam, sobretudo, fósseis de mamíferos e répteis aquáticos. Pela primeira vez, o evento será sediado nos Estados Unidos, mais precisamente em Akron, Ohio.
A extinção da fauna de mamíferos gigantes que viveram durante o Pleistoceno (entre 1,6 milhão e 50 mil anos atrás) ainda causa muita polêmica entre os pesquisadores. As duas hipóteses mais conhecidas para explicar o desaparecimento da megafauna (como é comumente conhecida) são mudanças climáticas ou a introdução de um novo predador: as primeiras espécies humanas. Um estudo publicado na revista PNAS propõe uma explicação para a extinção local de ao menos um grupo desses mamíferos: os proboscídeos, que reúnem os mamutes, mastodontes e elefantes modernos. Há um milhão de anos, eles viviam na África, Europa, Ásia e nas Américas. Hoje em dia, as populações selvagens dos proboscídeos estão restritas à região subsaariana da África e ao sul da Ásia. Antropólogos americanos examinaram localidades onde fósseis de proboscídeos e de espécies do gênero Homo conviveram e comparou este registro com as rotas de migração dos primeiros hominídeos. Como conclusão os cientistas afirmam que os primeiros humanos foram responsáveis pela extinção local dos proboscídeos devido a uma extensa atividade de caça. Os elefantes e seus antepassados sobreviveram apenas em regiões onde os hominídeos não tinham se adaptado ou estavam em pequeno número.
Pesquisadores dos Estados Unidos, França, África do Sul, Canadá e Níger realizaram importantes descobertas em rochas da Formação Moradi, no norte do Níger – anfíbios fósseis com 251 milhões de anos (idade chamada de Permiano Superior). O material consiste em crânios de duas espécies novas, Nigerpeton ricqlesi e Saharastega moradiensis , que possuem características bastante distintas dos demais anfíbios que viveram nesse tempo, representando formas bem mais primitivas. Os novos achados são bastante raros, pois foram encontrados em rochas que indicam um ambiente seco e semi-árido. O estudo, publicado na Nature , desmente a hipótese mais aceita, segundo a qual as faunas de anfíbios dominantes eram muito parecidas em todo mundo durante o Permiano Superior (quando as massas continentais estavam todas unidas no supercontinente Pangea). A força dessa hipótese se explica por problemas de coleta: a maior parte dos exemplares de anfíbios do Permiano Superior conhecidos são procedentes de rochas que evidenciam um ambiente tropical ou temperado. Pouco se conhece sobre os anfíbios que viveram em ambientes mais áridos, como o Nigerpeton e o Saharastega , que, a julgar pelos novos achados, eram bastante distintos dos demais, indicando que a fauna variava de acordo com o ambiente.
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