Com um pé no futuro

 



A substituição da frota nacional por veículos híbridos geraria uma economia de R$ 450 trilhões por ano para os cofres públicos. (Foto: Fabrício Barros).

Pode parecer ficção científica, mas carros que usam duas fontes de energia para se movimentar – geralmente um combustível fóssil e um motor elétrico – já são realidade em vários países. Com o objetivo de analisar os impactos da substituição da frota nacional pelos chamados veículos híbridos, uma pesquisa realizada na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP) constatou que a iniciativa traria vantagens econômicas e ambientais.

Desenvolvido pela engenheira automotiva Juliana de Freitas Queiroz durante seu mestrado, o estudo mostrou que os veículos híbridos são uma alternativa viável para o corte de gastos por parte do governo brasileiro no setor de transportes. Os resultados indicam que haveria uma redução de até 80% da poluição veicular e uma economia de R$ 450 trilhões por ano para os cofres públicos. A pesquisa revelou também que, caso a substituição da frota ocorra apenas na região metropolitana de São Paulo, o que abrangeria 7,4 milhões de veículos, a economia seria de R$135 bilhões por ano.

Segundo a engenheira, o uso da nova tecnologia representaria uma redução de R$ 18 mil nos gastos de cada veículo durante sua vida útil. Além da economia da população na compra de combustível, esse valor leva em conta a possibilidade de venda de créditos de carbono pelo governo devido à redução das emissões desse gás, conforme estabelecido no Protocolo de Quioto, e a verba que deixará de ser gasta com doenças respiratórias.

“O objetivo da substituição da frota nacional por veículos híbridos é arrecadar fundos para projetos sociais, além de buscar uma diminuição da poluição gerada pelos veículos que circulam no país. Falamos aqui de uma tecnologia aliada à qualidade de vida das pessoas”, defende Queiroz. E ressalta: “Mas, para facilitar o processo, é necessário o incentivo do governo, como ocorreu com os carros de motor 1.0.”

Em todo o mundo, o mercado para veículos híbridos vem se expandindo. No Brasil, porém, o produto ainda não é considerado lucrativo pelas montadoras em curto prazo, já que não recebe incentivos governamentais. Seu custo de produção ainda é maior do que o dos veículos convencionais. Além disso, a carga tributária que incide sobre a indústria automobilística no Brasil é uma das maiores do mundo e representa, em média, 33,3% do preço final dos veículos. “A redução dos impostos seria a melhor forma de tornar os carros com essa tecnologia comercialmente competitivos no mercado nacional”, sugere a pesquisadora.  

João Gabriel Rodrigues
Ciência Hoje On-line
15/05/2007