Computador transcreve textos em braille

 

       

Para facilitar a interação entre professores e alunos deficientes visuais dentro da sala de aula, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desenvolveram um programa de computador capaz de transcrever textos feitos no sistema braille para textos escritos no sistema óptico (alfabeto convencional), em língua portuguesa.

null

Texto em braile, sistema de escrita em relevo que permite a leitura por cegos
(imagem: reprodução / Sindicato Nacional dos Oftalmologistas da França )

A idéia para o desenvolvimento do software, chamado BR Braille, surgiu no doutorado do professor José Oscar de Carvalho. O estudo teórico do processamento de imagens para a transcrição de textos em braille foi feito pela engenheira Cláudia Bezerra em sua dissertação de mestrado; dois alunos de graduação em engenharia de computação da Unicamp, Adriana Kawai e Rodrigo Barros, programaram o software como trabalho prático da sua bolsa de iniciação científica, sob orientação da professora Vera Lúcia Button.

O BR Braille permitirá que o próprio professor corrija as provas e outras tarefas escolares de seus alunos deficientes visuais. Segundo Cláudia, grande parte desses estudantes elabora suas avaliações escritas com o uso de reglete (instrumento para escrita manual em braille) ou de uma máquina de datilografia própria. “O acesso a computador ainda não é a realidade em muitos lares e escolas no Brasil”, disse Cláudia. “Aqueles que têm acesso usam o teclado normalmente e escrevem seus textos diretamente em caracteres alfanuméricos.”

Para corrigir provas em braille, o professor teria que conhecer esse sistema, solicitar o trabalho de um transcritor ou, ainda, pedir que o próprio aluno lesse o trabalho. Geralmente, a última alternativa é a adotada por ser a mais acessível, mas é a mais inadequada do ponto de vista pedagógico.

O BR Braille, disponível gratuitamente na internet, pode ser instalado em qualquer computador. É apenas necessário que o usuário possua um scanner de mesa comum para a digitalização da folha escrita em braille. Ao utilizar um computador Pentium 100 Mhz com 32 Mb de memória RAM, a transcrição de uma página, digitalizada com resolução de 100 dpi, foi feita em 30 minutos. Esse tempo diminui bastante com equipamentos de melhor desempenho: um microcomputador Pentium III com 750 Mhz e 256 Mb de memória RAM leva apenas um minuto para transcrever uma página.

A pesquisadora pretende fazer uma pesquisa em breve com os usuários do BR Braille cadastrados no site e, assim, acompanhar a adaptação dos usuários ao programa. Porém, mesmo antes desse estudo, Cláudia já tem em mente alguns aprimoramentos a serem feitos, como permitir que o BR Braille funcione no sistema operacional Linux, e não só no Windows.

Além disso, Cláudia afirma que o programa também passará a transcrever textos no sistema braille unificado adotado por todos os países de língua portuguesa — cada país possuía seu sistema braille específico e há uma tendência mundial de unificação de todos eles. “Começamos a pesquisa para melhorar o tempo de processamento da imagem e acrescentar a transcrição de símbolos químicos, matemáticos e musicais — esse é o projeto de iniciação científica do Rodrigo.”

 

 

Liza Albuquerque
Ciência Hoje on-line
24/10/03