Construções mais seguras e ecológicas

O emprego de vigas híbridas, feitas com lâminas de madeira coladas, concreto e reforço opcional de fibra de vidro, pode aumentar a segurança das construções, pois elas são mais resistentes que as vigas convencionais, feitas só com madeira ou concreto. Pensando em incentivar o uso desse material no país e torná-lo ecologicamente correto, um pesquisador paulista desenvolveu vigas híbridas feitas com madeira extraída de florestas certificadas.

“As vigas híbridas são pouco usadas nas construções brasileiras, mas o emprego desse material é uma tendência mundial forte que veio para ficar”, avalia o engenheiro civil José Luiz Miotto, que desenvolveu as novas vigas híbridas em seu doutorado na Universidade de São Paulo (USP).

“O emprego de vigas híbridas é uma tendência mundial forte que veio para ficar.”

As vigas são estruturas colocadas horizontalmente para sustentar o peso das construções. Por serem mais resistentes que as vigas compostas somente por um material, as híbridas permitem aumentar o espaço entre os pontos de apoio da construção. O pesquisador acrescenta que, apesar de serem mais indicadas para construções de médio e grande porte, as vigas híbridas podem ser usadas também em pequenas edificações.

O diferencial do produto desenvolvido por Miotto é a escolha da matéria-prima para a viga: o eucalipto (espécie híbrida de Eucalyptus grandis e Eucalyptus urophylla) certificado. “Fiz isso para incentivar as pesquisas com madeira proveniente de florestas plantadas”, explica o engenheiro.

Segundo ele, a madeira certificada tem pré-requisitos suficientes para amenizar o impacto ambiental das construções, por ser um recurso renovável, reaproveitável e cuja procedência garante a não agressão ao ambiente. Além disso, o eucalipto usado na pesquisa, embora tenha densidade menor do que as madeiras tradicionalmente empregadas em construções (como o ipê e a maçaranduba), não diminui a qualidade das vigas, o que pode reduzir a demanda por madeiras nobres.

Combinação de qualidades

Miotto explica que a ideia por trás das vigas híbridas é aproveitar o melhor de cada material usado e compensar suas fraquezas por meio da combinação deles. A madeira é biodegradável e barata, além de ser renovável. Entretanto, ela tem pouca tolerância à tração na presença de defeitos.

Para sanar esse problema, entram em cena o concreto e a fibra de vidro, que adicionam, respectivamente, rigidez e resistência à viga. O estudo mostra que o uso do concreto junto com a madeira e a fibra de vidro torna as vigas híbridas 134% mais rígidas e 28% mais resistentes.

Plantação de eucaliptos
Por se tratar de um recurso renovável e de procedência conhecida, o uso da madeira de eucalipto certificado minimiza o impacto ambiental das construções (foto: André Ribeiro).

No total, Miotto produziu 11 vigas com cinco metros de comprimento. O primeiro passo foi confeccionar a parte de madeira laminada colada, composta por 12 lâminas de três centímetros de espessura e nove centímetros de largura cada. No lado da viga que fica voltado para baixo, ele adicionou o reforço de fibra de vidro, com 0,5 milímetros de espessura. Por fim, o concreto foi colocado na parte de cima da viga e ligado a ela por meio de ganchos metálicos.

Para Miotto, o Brasil ainda engatinha no emprego de vigas híbridas na construção civil. A pequena tradição de uso desse tipo de estrutura e o número reduzido de empresas fabricantes da madeira laminada colada são as principais causas dessa situação.

O resultado é sentido no preço: as vigas híbridas ainda são mais caras que as vigas comuns. Entretanto, o engenheiro destaca que a qualidade e a resistência das estruturas híbridas saltam aos olhos. “Os preços são competitivos em países onde há muitos fabricantes desse material”, acrescenta. “No caso do Brasil, a falta de produtores faz com que o preço seja alto, mas não inviável.”

 

Raquel Oliveira
Ciência Hoje On-line