Crack diminui fertilidade

Fumar crack pode reduzir a fertilidade, aponta estudo da Universidade de São Paulo (USP). Camundongos expostos à fumaça proveniente da droga tiveram suas células produtoras de espermatozóides danificadas. Os resultados indicam que esses efeitos podem ocorrer também em humanos e causar danos irreversíveis ao aparelho reprodutivo de usuários de crack, principalmente jovens na puberdade.

“O crack induziu a morte de células dos testículos dos camundongos envolvidas no processo de formação dos espermatozóides, o que pode significar uma redução no potencial reprodutivo”, afirma o médico Júlio Cezar Zorzetto, que desenvolveu o estudo em sua tese de doutorado na Faculdade de Medicina da USP.

Para a pesquisa, Zorzetto usou 40 camundongos, 20 jovens e 20 na fase adulta. Os animais foram colocados em uma câmara e submetidos à inalação de fumaça de crack durante dois meses, tempo que o ciclo de formação dos espermatozóides (chamado de espermatogênese) leva para se completar nesses roedores. A dose usada no experimento foi de cinco gramas da droga por dia.

Após submeter os camundongos à inalação de fumaça de crack durante dois meses, os pesquisadores perceberam a degeneração das espermátides alongadas, células prontas para serem lançadas como espermatozóides (indicadas pelas setas, à dir.), em comparação com animais saudáveis (à esq.). Nos camundongos jovens (no alto), os danos foram mais severos do que nos adultos (embaixo). Fotos: J. C. Zorzetto.

A pedra de crack é feita a partir da pasta básica da cocaína (composta da folha da coca e de ácido sulfúrico), misturada a bicarbonato de sódio e água e aquecida. A droga usada no estudo tinha 57,6% de cocaína, quantidade que pode provocar também problemas no sistema cardiovascular, como hipertensão arterial e infarto do miocárdio.

Após a análise dos testículos dos animais, foi possível comprovar a redução da quantidade de células germinativas que geram o espermatozóide, de túbulos seminíferos (estruturas onde ocorre a espermatogênese) e de células somáticas que nutrem e dão sustentação a todo o processo da espermatogênese.

Segundo Zorzetto, os camundongos mais jovens sofreram os maiores danos. “Nesses animais, os efeitos do crack foram mais severos, com a diminuição significativa do número de células somáticas, além da redução do número de túbulos seminíferos e das espermátides alongadas, células que estão prontas para serem lançadas como espermatozóides”.

Dano irreversível
O pesquisador alerta que, embora as células germinativas tenham a capacidade de se regenerar, isso não ocorre com as células somáticas. “O fato de essas células não se regenerarem indica que o dano causado pelo uso de crack é irreversível e pode tornar os indivíduos estéreis.”

O médico ressalta a importância do estudo, o primeiro a avaliar experimentalmente os efeitos do crack em camundongos, uma vez que essa droga está se tornando cada vez mais popular e vem sendo usada mais cedo, até por crianças. Segundo ele, os resultados sugerem que a redução do potencial de fertilidade deve atingir diretamente os pré-adolescentes usuários da droga, que estão em pleno processo de maturação sexual. “Pretendemos continuar essa linha de pesquisa e investigar novas drogas, como o ecstasy ”, completa.

Fabíola Bezerra
Ciência Hoje On-line
21/01/2008