Crianças sedentárias, adultos obesos

Nem os mais novos estão a salvo dos malefícios do sedentarismo: um estudo britânico mostrou que, já aos três anos de idade, muitas crianças praticam menos atividades físicas do que deveriam e correm o risco de se tornarem adultos obesos. A pesquisa foi feita por médicos da Universidade de Glasgow (Escócia) e publicada em 17 de janeiro na revista The Lancet .

O estudo, feito com 78 crianças de três anos, avaliou ao longo de uma semana dados como gasto diário de energia, tempo de atividade física e de comportamento sedentário. Dois anos depois, foram feitas novas medições, durante um período de 10 dias.

Os cientistas relataram que as crianças se exercitavam em média apenas durante 20 a 25 minutos por dia, embora se recomende ao menos uma hora diária de atividade física. As crianças de três anos tiveram comportamento sedentário durante 79% do tempo em que foram monitoradas. Dois anos depois, o resultado não foi diferente: 76% de seu tempo foi gasto em atividades que não demandavam grande esforço físico.

A pesquisa apontou que o total de energia gasto pelas crianças durante um dia está 200 kcal abaixo da média recomendada. As principais causas desse estilo de vida sedentário são as facilidades da vida moderna que levam ao gasto mínimo de energia e os pratos cada vez mais calóricos e sem nutrientes consumidos pelas crianças.

O alerta foi reforçado por um comentário publicado juntamente com a pesquisa, escrito pelo médico James Hill, da Universidade do Colorado (EUA). Segundo ele, é quase certo que essas crianças serão obesas e desenvolverão doenças que antes eram exclusivas dos adultos. “Baixo nível de atividade física é um fator de risco independente para o desenvolvimento de diabetes tipo 2 e doenças cardíacas”, disse Hill à CH On-line .

Nos EUA, a obesidade já virou epidemia. Mais de 120 milhões de americanos (64,5% da população adulta) estão acima do peso ideal; entre eles, 59 milhões são obesos. Mas o problema não se restringe aos países desenvolvidos: em algumas capitais brasileiras, a porcentagem de crianças de 7 a 10 anos acima do peso está entre 25 a 33%. “O acesso a tecnologias como carros, computadores e televisão está cada vez mais comum”, disse Hill. “É provável que a obesidade também seja um problema em países não-industrializados no futuro.”

O médico Mauro Fisberg, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), acredita que a situação brasileira já é bastante preocupante. Na última Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição, feita em 1989, a média de crianças de 7 a 10 anos acima do peso não ultrapassava os 5%. “Apesar de não termos dados nacionais mais novos, os números registrados em algumas capitais brasileiras já são seis vezes maiores”, alerta Fisberg.

No Brasil, já existe um programa para combater a obesidade infantil. O International Life Science Institute Brasil (ILSI Brasil), organização que reúne universidades, governos e indústrias, desenvolve projetos de diagnóstico precoce da obesidade e programas de incentivo à atividade física em escolas públicas e privadas.

Liza Albuquerque
Ciência Hoje On-line
30/03/04