Da floresta para a pele

Já são 40 as espécies de plantas amazônicas com propriedades anticancerígenas comprovadas no âmbito do Programa de Pesquisa em Biodiversidade, que reúne nove núcleos de estudos sobre a diversidade biológica brasileira. A próxima a entrar no grupo pode ser a árvore Protium heptaphyllum, mais conhecida como almecegueira ou breu branco. Em testes feitos na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto, o óleo produzido pela planta mostrou potencial antioxidante e seu uso pode proteger as células da pele da radiação solar.

A farmacêutica Ana Luiza Forte, responsável pelo estudo, encontrou no extrato do caule da planta substâncias capazes de neutralizar os radicais livres, moléculas instáveis geradas durante uma exposição excessiva aos raios solares e que podem danificar os componentes das células, principalmente os lipídios.

O produto agiria neutralizando moléculas de radicais livres e espécies reativas do oxigênio que podem interagir com estruturas presentes na pele levando a danos nesse tecido

Sua proposta é utilizar o extrato de breu incorporado a um gel para a pele que funcionaria como uma camada protetora contra os raios solares. Ela explica que o produto agiria neutralizando moléculas de radicais livres e espécies reativas do oxigênio que podem interagir com estruturas presentes na pele levando a danos nesse tecido. “A exposição excessiva ao sol induz uma produção tão exacerbada dessas moléculas que as proteções naturais da pele não dão conta de removê-las”.

Os danos causados por essas moléculas podem, por sua vez, levar ao envelhecimento e ao aparecimento do câncer de pele.

Seleção cuidadosa

Antes de chegar ao breu, no entanto, Forte testou a ação antioxidativa de outros 40 extratos de plantas amazônicas fornecidos pelo Museu Paraense Emílio Goeldi, que realiza estudos sobre o uso sustentável de plantas brasileiras com propriedades economicamente interessantes. Os quatro que apresentaram eficácia com apenas 0,01 mg de extrato seguiram para a fase seguinte de testes, na qual foi analisada a toxicidade celular das substâncias.

Os extratos ficaram 24 horas em contato direto com células isoladas de camundongos semelhantes às encontradas nas camadas mais profundas da pele humana. Nesse período, a farmacêutica e sua orientadora, a bioquímica Maria José Vieira Fonseca, monitoraram os níveis tóxicos de cada um dos extratos com o auxílio de um corante especial. “Quanto mais intensa a coloração, mais células estão vivas”, explica Forte.

As pesquisadoras verificaram que as células puderam suportar concentrações maiores do extrato de breu branco do que dos outros três extratos, já que a coloração foi mais intensa nas células a ele expostas.

Paralelamente foram feitos testes para avaliar qual seria a melhor formulação para a aplicação do extrato na pele. Nesse quesito, quem ganhou foi o gel feito a base de um polímero chamado aristoflex AVC. O produto foi escolhido por sua maior eficiência na liberação e penetração das substâncias ativas do extrato na pele, uma hora após a aplicação.

Gel
Gel a base de polímero mostrou ser a melhor opção para a formulação do extrato, por sua eficiência na liberação e penetração das substâncias ativas. Testes com camundongos comprovaram a ação protetora do gel no combate aos radicais livres. (foto: Press Release Finder/ Flickr – CC BY-NC-ND 2.0)

Por fim, o produto foi testado em camundongos sem pelos submetidos à radiação ultravioleta artificial. Os resultados obtidos demonstraram que a pele dos camundongos tratados com a formulação contendo o extrato de breu branco manteve-se mais protegida da ação dos radicais livres do que aquelas não tratadas.

A próxima etapa da pesquisa, que ainda depende de recursos, será de testes em humanos. Forte acredita no potencial do produto, que poderia ser usado em conjunto com protetores solares, tornando-os mais eficazes. “Ocasionalmente, os raios de sol podem provocar a degradação dos filtros solares levando a perda de sua eficácia. O uso de antioxidantes pode ajudar a evitar esse problema.”

Camille Dornelles
Ciência Hoje On-line