O que o diabetes tem a ver com a pupila dos olhos de uma pessoa? Tudo, aponta pesquisa da engenheira biomédica Giselle Ferrari, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Ela descobriu que, diante de um estímulo luminoso, o olho de um diabético reage de maneira distinta do de um indivíduo saudável, de tal modo que é possível mensurar essa diferença. A descoberta tem uma explicação, que está relacionada com uma das principais complicações que a doença provoca: a neuropatia periférica.
A pupila é o orifício situado no centro da íris que, ao se contrair ou dilatar, regula a quantidade de luz que penetra o globo ocular. Os movimentos, involuntários, são comandados pelo sistema nervoso autônomo.
Em pessoas com neuropatia periférica a ação da pupila diante de uma mudança brusca de luminosidade leva mais tempo para acontecer. Esse tipo de disfunção é uma das principais consequências do diabetes, que se caracteriza pelo excesso de glicose no sangue. A doença pode também levar o paciente a ter problemas nos rins e no coração, entre outras complicações.
Em seu doutorado, cuja tese foi defendida em 2008 na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Ferrari demonstrou que portadores de diabetes apresentam funcionamento anormal da pupila antes mesmo de a neuropatia periférica se manifestar. Isso abre a possibilidade de se suspeitar da doença em um paciente que ainda não apresentou qualquer sintoma de forma visível.
Para chegar a essa conclusão, a pesquisadora utilizou um pupilômetro dinâmico, instrumento que registra o raio da pupila de um indivíduo em função do tempo. Os voluntários eram orientados a colocar um dos olhos no equipamento – que ficava totalmente escuro –, enquanto mantinham o outro fechado.
Após dois minutos (tempo máximo para que a pupila se dilatasse até alcançar o maior diâmetro), um flash de luz, com duração de 10 milissegundos, era disparado. Uma câmera registrava a reação da pupila da pessoa após o estímulo luminoso.
Participaram dos testes 36 voluntários diabéticos e 22 saudáveis, todos na mesma faixa etária. Nos portadores de diabetes, além de a pupila levar mais tempo para se contrair e voltar a se dilatar depois do disparo, a abertura máxima do orifício era menor que a verificada nos voluntários saudáveis. Nenhum dos indivíduos utilizava qualquer tipo de medicamento que interferisse na atividade da estrutura ocular.
Experimentos semelhantes foram propostos na década de 1990 em outros países, mas não chegaram a resultados conclusivos. O principal motivo é que até agora os pesquisadores comparavam o diâmetro da pupila de duas pessoas em termos absolutos.
“Em nossa pesquisa, levamos em conta a dilatação da pupila em relação ao tamanho da íris, que varia de indivíduo para indivíduo”, explica a pesquisadora responsável pelo estudo.
Pré-diagnóstico
A partir da pesquisa de Ferrari, os engenheiros Alessandro Zimmer e Vítor Yano, da UFPR, desenvolveram um algoritmo experimental capaz de distinguir diabéticos de não diabéticos analisando apenas imagens de pupila.
Em um experimento com 68 vídeos, o sistema computacional apontou, com índice de 100% de acerto, as gravações que eram de portadores da doença e as que mostravam pessoas saudáveis. Os autores avaliam que a ferramenta ainda precisa de mais testes para poder ser considerada plenamente confiável.
Ferrari ressalta que depressão e mal de Alzheimer, entre outras doenças, também têm como consequência um distúrbio no sistema nervoso autônomo. Por isso, a simples constatação de que o tempo de resposta pupilar está acima do normal não significa necessariamente que um paciente é diabético.
“O que se pode dizer é que o indivíduo não está saudável”, diz Ferrari. A partir daí a pessoa poderia ser encaminhada para um exame específico para confirmar a causa do problema.
A pesquisadora não descarta a possibilidade de o raio de dilatação máxima da pupila variar de acordo com a taxa de glicose no sangue de cada pessoa, embora ainda não tenha sido possível realizar testes que comprovem a hipótese.
Caso a suspeita se confirme, um dia poderá ser comum um paciente medir a taxa de glicose no sangue como se aparentemente estivesse fazendo um exame oftalmológico.
Célio Yano
Ciência Hoje On-line / PR