A persistência da tuberculose está ligada a uma enzima produzida pela bactéria que causa a infecção ( Mycobacterium tuberculosis ). A enzima isocitrato liase (ICL) permite que o micróbio use ácidos graxos das reservas das células do corpo como fonte de energia, possibilitando a persistência. A descoberta, feita por um grupo liderado por pesquisadores da Universidade de Rockefeller (Estados Unidos), sugere que inibir a produção da ICL pode colaborar no tratamento da tuberculose, que faz mais vítimas que qualquer outra infecção bacteriana.
A Mycobacterium tuberculosis causa a tuberculose, infecção bacteriana que mais faz vítimas
Para demonstrar experimentalmente a ligação entre a enzima e a persistência da bactéria, os pesquisadores infectaram ratos com duas cepas de M. tuberculosis – uma ‘natural’, contendo o gene que comanda a síntese da ICL, e outra mutante, sem esse gene. Durante a fase aguda da infecção, o crescimento das duas cepas foi idêntico. Quando a infecção entrou na fase crônica, a bactéria mutante foi eliminada pelo sistema imunológico, enquanto a ‘natural’ continuou atacando com a mesma intensidade. Segundo John McKinney, coordenador da pesquisa, os ratos infectados com a bactéria mutante, mantidos há mais de um ano, continuam vivos e fortes.
Quando o corpo é invadido pela M. tuberculosis , ela é combatida pelo sistema imunológico, que nem sempre consegue eliminá-la. Mesmo com a inibição da multiplicação da bactéria, a infecção pode persistir em estado latente – sem apresentar sintomas da doença ativa. Quando o sistema imunológico se enfraquece por qualquer razão, o micróbio fica pronto para entrar em ação.
Medicamentos convencionais matam a bactéria interferindo na síntese de DNA, RNA e proteínas dos microorganismos. “Como esses processos ocorrem em ritmo mais demorado nas bactérias em estado latente, a ação das drogas é mais lenta”, explicou McKinney à CH on-line . Os tratamentos usuais aplicam três a cinco medicamentos por pelo menos seis meses – programa que alguns não seguem até o fim, não chegando à cura. Isso torna a bactéria mais resistente aos medicamentos.
Os pesquisadores pretendem criar uma droga que iniba a produção da enzima. Isso bloquearia o uso de ácidos graxos na fase persistente da infecção e impediria a bactéria de se manter em estado latente. “Combinando o tratamento convencional, que combate o crescimento da bactéria, a uma droga que impeça sua persistência, a infecção poderia ser eliminada mais rapidamente”, afirma McKinney. Essa droga permitiria também reduzir o ritmo da quimioterapia de seis meses para algumas semanas.
Helena Aragão
Ciência Hoje/RJ
07/09/00