Devagar não se vai longe

A maior parte das pessoas que fazem caminhada não aproveita ao máximo os benefícios proporcionados pela atividade por praticar o exercício em intensidade abaixo da ideal. É o que sugere estudo realizado pelo fisioterapeuta Anderson Aurélio da Silva, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Entre junho de 2011 e maio de 2012, o pesquisador analisou o comportamento de 142 pessoas que fazem caminhadas diárias na cidade de Belo Horizonte. O estudo apontou que apenas 25%, ou um em cada quatro caminhantes, praticava a atividade de maneira correta. Para o fisioterapeuta, embora a pesquisa tenha sido feita apenas na capital mineira, o índice pode ser considerado para outras capitais brasileiras.

Segundo Silva, o mais importante é acertar a intensidade do exercício, já que este é um dos fatores que ajudam a manter a chamada sobrecarga em equilíbrio – junto com a duração e a frequência. “O maior problema é que as pessoas andam muito devagar, porque acreditam no mito de que qualquer tipo de caminhada, mesmo sem orientação, traz benefícios”, diz (ver ‘Dicas’).

Caminhada
Lugares arborizados são ótimas opções para quem quer melhorar a qualidade do exercício. Além disso, os caminhantes devem ficar longe do tráfego de veículos, para evitar que as ruas atrapalhem o ritmo da atividade. (foto: Washington César Takeuchi/ circulandoporcuritiba.com.br)

O pesquisador explica que existe na literatura especializada uma fórmula para calcular a intensidade ideal através da frequência cardíaca: 220 menos a idade da pessoa. Entre 60% e 80% do resultado, a caminhada é benéfica. Isso quer dizer que um homem de 30 anos, por exemplo, aproveita o máximo do exercício se os seus batimentos cardíacos variarem entre 114 e 152 por minuto.

Em intensidade abaixo de 60%, a atividade traz benefícios mínimos. “Ela até pode ajudar o praticante a dormir melhor, a controlar a ansiedade e a perder um pouco de peso. Mas, ao caminhar na intensidade ideal, os pontos positivos são muito mais evidentes”, explica Silva.

Entre os efeitos positivos estão a diminuição do risco de infarto e de pressão alta e o controle de diabetes, colesterol e síndrome metabólica. Em intensidade acima do recomendado, a atividade se torna perigosa, com risco de infarto e de lesão muscular.

Para Silva, políticas públicas poderiam ser elaboradas para garantir a prática adequada do exercício. “A prefeitura poderia contratar profissionais especializados e promover campanhas educativas para ensinar as pessoas a obter o máximo da caminhada”, defende.

Dicas
Anderson Aurélio da Silva faz recomendações para quem quer praticar uma boa caminhada:

    Quem não tem um aparelho que calcula a frequência cardíaca pode medir a intensidade do esforço através do chamado cansaço subjetivo. O ideal é que o praticante se sinta um pouco ofegante ao caminhar, mas que esse cansaço passe no final do exercício. Os caminhantes devem procurar lugares arborizados e longe do tráfego de veículos, para evitar que as ruas atrapalhem o ritmo da atividade.Conversar durante a atividade física está liberado, desde que a intensidade ideal do esforço não seja alterada.É importante procurar ajuda especializada, como um fisioterapeuta, por exemplo, para avaliar se a posição do pé está correta na hora da pisada.O lema é “já que vou fazer, vou fazer bem feito”. É preferível andar um pouco mais rápido que o normal, do que muito devagar.

Marina Sequinel
Especial para a CH On-line/ PR