Diagnóstico não invasivo do câncer de mama

O câncer de mama, uma das principais causas de morte em mulheres nos países ocidentais, poderá ser diagnosticado no futuro a partir de um novo método, que não exige a retirada de um pedaço do tumor para avaliação, como ocorre com a biópsia. A técnica, baseada em raios X, permite observar com precisão a estrutura do tecido e detectar mudanças características de tumores malignos ou benignos no arranjo das moléculas.

Diferenças no arranjo das fibras de colágeno presentes no tecido da mama podem ser um indicativo da presença do câncer (foto: Wikimedia Commons).

O estudo está sendo realizado durante o mestrado de André Luiz Coelho Conceição na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto. O objetivo é identificar padrões nas estruturas moleculares que diferenciem tecidos normais, tecidos com tumores benignos e com um tipo de carcinoma invasivo. A técnica que permite essa observação em escala diminuta é o chamado espalhamento de raios X a baixo ângulo (SAXS, na sigla em inglês).

Após a definição das características típicas de cada tecido, o método poderia ser adequado para uso nos pacientes, como um exame complementar à mamografia, para o diagnóstico precoce do câncer de mama. O resultado seria obtido por meio da comparação da estrutura molecular do tecido do paciente com os padrões pré-estabelecidos. “Além de não ser invasiva, a técnica eliminaria a subjetividade decorrente da biópsia tradicional, em que dois médicos podem dar diagnósticos diferentes em função de sua observação”, avalia Conceição.

A partir de análises de 20 amostras de tecidos normais e com tumores malignos e benignos previamente identificadas por um patologista, os cientistas detectaram diferenças no arranjo das fibras de colágeno presentes no material. “Há um indicativo de que a neoplasia provoca mudanças na estrutura das fibras de colágeno. Esse seria o sensor das anomalias”, aponta Conceição. “Acreditamos que, se houver diferenças estruturais entre tumores mais e menos agressivos, também será possível detectá-las.”

O poder da luz síncrotron
A identificação desses padrões para os diferentes tipos de tecido foi possível graças ao uso da luz síncrotron, que contém feixes intensos de raios X que conferem alta resolução à observação do material. A luz síncrotron é gerada quando um feixe de elétrons é acelerado a altas velocidades e depois desviado de sua trajetória. Na América Latina, a única instalação capaz de produzir esse fenômeno é o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), localizado em Campinas (São Paulo).

Segundo Conceição, a técnica SAXS já havia sido estudada no exterior em 2000 para detectar o câncer de mama. No entanto, os padrões descritos pelos pesquisadores na época mostraram-se sem validade posteriormente, pois o detector usado não tinha resolução suficiente.

O grupo brasileiro pretende agora aumentar o número de amostras analisadas para concluir a caracterização dos padrões de cada tipo de tecido. Dessa forma, será possível aumentar a confiabilidade da técnica e comprovar seu potencial para diagnosticar o câncer de mama.

Mesmo que a validade do método seja confirmada, seu uso clínico ainda dependerá do desenvolvimento de detectores com resolução tão alta quanto à da luz síncrotron, porém com tamanho menor do que o conjunto de aceleradores instalados no LNLS – o maior deles, chamado anel de armazenamento, tem 93 m de circunferência.

A pesquisa, apresentada na 18ª Reunião Anual de Usuários do LNLS (RAU), realizada nos dias 18 e 19 de fevereiro nas instalações do Laboratório, mostra o potencial da fonte de luz síncrotron como ferramenta importante para a investigação de novas técnicas de diagnóstico do câncer, que, quando feito precocemente, aumenta muito as chances de cura dos pacientes. 

Thaís Fernandes (*)
Ciência Hoje On-line
21/02/2008

(*) A jornalista viajou a Campinas a convite dos organizadores da RAU.