Não adianta diminuir o número de cigarros — pelo menos se você deseja se ver livre do risco de contrair câncer de pulmão. Essa é conclusão de um estudo feito por pesquisadores americanos que analisaram a quantidade de substâncias cancerígenas presente na urina de voluntários que diminuíram progressivamente durante seis meses o número de cigarros fumados por dia.
Coordenada pelo químico Stephen Hecht, da Universidade de Minnesota (EUA), a equipe de cientistas recrutou 150 voluntários para a pesquisa, 50 dos quais formaram o grupo de controle. Os outros 100 deveriam reduzir o número de cigarros fumados por dia em 25% nas primeiras duas semanas, 50% nas duas semanas seguintes e 75% até a sexta semana do acompanhamento. Os resultados foram apresentados em 21 de janeiro no Journal of the National Cancer Institute .
Os pesquisadores mediram os níveis do composto químico conhecido como NNK, presente no tabaco e causador do câncer de pulmão (o nome técnico da substância é 4-N-(nitrosometilamino)-1-(3-piridil)-1-butanona). Esses níveis não foram medidos de forma direta: os cientistas avaliaram, em amostras de urina dos participantes, a quantidade de dois compostos resultantes da transformação do NNK no corpo humano, apelidados de NNAL e NNAL-Gluc.
Os cientistas observaram que, conforme o participante ia diminuindo a quantidade de cigarros fumados por dia, os níveis de NNAL e NNAL-Gluc na urina não diminuíram na mesma proporção. O percentual de queda dos níveis dessas substâncias foi, em média, inferior à metade daquele verificado no número de cigarros diários.
Dos 100 voluntários que tentaram diminuir a quantidade de tabaco consumida, 65 conseguiram reduzi-la em pelo menos 40% até o final de 12 semanas. Entre esses indivíduos, a diminuição média do número de cigarros foi de cerca de 53% na quarta semana, 74% na sexta, 75% na oitava e 74% na décima segunda. Já a redução correspondente de NNAL e NNAL-Gluc foi de 29%, 33%, 37% e 29%.
Hecht tem uma hipótese para explicar essa discrepância: os fumantes poderiam ter compensado a diminuição da quantidade de cigarros com um aumento da intensidade da tragada. Porém, trata-se apenas de uma especulação, pois não foi medido o volume de fumaça inalado pelos voluntários durante a pesquisa.
Os voluntários, que tinham em média 46 anos e fumavam há cerca de 28, receberam adesivos e chicletes de nicotina para ajudar a diminuir o fumo, mas a eficácia de tais métodos não foi testada durante a pesquisa.
“A redução de cigarros por dia pode não levar a uma redução correspondente na quantidade de carcinógenos absorvidos”, disse Hecht à CH On-line . “A única maneira concreta de evitar um dano futuro é parar de fumar definitivamente.” De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 4,2 milhões de pessoas morreram prematuramente por causa do cigarro apenas no ano 2000. No ano de 2030, estima-se que esse número pule para 10 milhões.
Liza Albuquerque
Ciência Hoje On-line
09/02/04