No supermercado, um senhor escolhe carne no açougue, o casal namora um Cabernet Sauvignon na seção de vinhos, uma senhora enche a cesta na seção de hortifrutigranjeiros. Em meio a cenas triviais como essas, três moças vestidas de branco se destacam: “Você já comeu DNA hoje?”, pergunta uma delas a uma curiosa senhora. “Acho que não”, responde a mulher antes de um relato rápido de suas refeições no dia. O contato estava feito. E, entre legumes, frutas e verduras, a dona-de-casa podia então aprender a extrair o DNA de um morango. Essa interação entre pessoas comuns em torno de questões de genética foi possível graças ao projeto O DNA vai ao supermercado , realizado em Curitiba durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. O evento resultou de uma parceria entre a organização sem fins lucrativos ‘O DNA vai à escola’ e a Universidade Paranaense (Unipar).
Professora da Unipar amassa morangos para a extração de DNA em supermercado de Curitiba (foto: Murilo A. Pereira)
Segundo Paula, a escolha do morango para a ‘aula’ se deu pelo fato de a fruta ter quatro cópias de DNA em cada um de seus 40 cromossomos, ou seja, é mais fácil de visualizar. “Para facilitar, a gente mostra, faz associações e explica o DNA desde o início”, diz a professora. As pessoas começam o ‘estudo’ picando e triturando o morango em pequenas partes, o que leva à quebra da parede das células.
O passo seguinte é destruir quimicamente a parede celular e a membrana nuclear. O participante da brincadeira fica intrigado com a adição de detergente ao morango amassado. “O detergente reage com os lipídios dessas membranas e os isola na mistura”, explica Paula. Depois adiciona-se sal, que, em contato com a água do morango, desprende íons de carga positiva Na+. Esses íons reagem com as cargas negativas do DNA e forma um aglomerado. Para visualizá-lo, basta colocar uma porção de álcool. Uma parte das proteínas se dissolve, e a outra fica no fundo do frasco. Como o DNA é insolúvel em álcool, uma nuvem com milhões de filamentos aparece no frasco, para deleite do ‘novo cientista’.
Murilo Alves Pereira
Especial para a CH On-line/PR
11/10/05