Do fundo da medula óssea

Pesquisadores do setor de cardiologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) preparam-se para, daqui a algumas semanas, começar a valer-se de células-tronco com o objetivo de recuperar tecidos musculares do coração de portadores de cardiomiopatia dilatada, a mais freqüente das doenças cardíacas.

 
A iniciativa deve ajudar a atenuar um quadro alarmante: por ano, cerca de 300 mil brasileiros morrem em conseqüência de insuficiência cardíaca. O problema é mais comum do que se imagina. Decorrente de doenças como cardiomiopatia dilatada, endocardiofibrose, cardiopatia congênita e mal de Chagas, entre outras, é a terceira principal causa de internação hospitalar no país e mata mais que o câncer.
 
Os pacientes que sofrem de cardiomiopatia dilatada têm os ventrículos cardíacos (cavidades inferiores do coração que recebem sangue dos átrios e o enviam às artérias aorta e pulmonar) significativamente aumentados. Em conseqüência dessa dilatação, o coração só consegue cumprir parte de suas funções, causando acúmulo de sangue nos pulmões, fígado e membros inferiores. Daí por que o paciente se queixa de falta de ar e inchaço do abdome e das pernas.
 
A solução para o problema envolve procedimentos complexos, como restauração do sincronismo cardíaco, cardiomioplastia, correção da insuficiência mitral, modificação da esfericidade do ventrículo esquerdo e ventriculectomia. “A técnica de ventriculectomia consiste em retirar um pedaço do ventrículo esquerdo do paciente e adequar sua função a um consumo menor de oxigênio por suas paredes”, explica o cardiologista Danton da Rocha Loures, coordenador da pesquisa na UFPR. Após estudos experimentais e os resultados das primeiras aplicações clínicas em humanos, Loures acredita que o emprego de células-tronco seja, no momento, a melhor opção para se combater a cardiomiopatia dilatada.
 
Já bastante utilizadas em outras áreas da medicina, as células-tronco têm potencial angiogênico (podem formar vasos para irrigação tecidual) e de mimetização celular nas áreas onde são implantadas (podem, no caso, dar origem a células mioblásticas com capacidade de contração). As células-tronco usadas na pesquisa de Loures vêm da medula da crista ilíaca (osso da bacia) ou do fêmur do paciente.
 
As células são extraídas do sangue da medula desses ossos, centrifugadas e injetadas em tecidos do coração doente. Assim, podem aumentar a circulação coronariana ou recuperar tecidos lesionados por ocasião de infartos do miocárdio.
 
Segundo o pesquisador da UFPR, é possível utilizar também, além de células-tronco, células do músculo esquelético. Estudos recentes têm revelado que essas células, chamadas mesenquimais, formam tecidos com capacidade de contração muscular muito maior.
 

Os pesquisadores não ignoram o risco de crescimento incontrolável dessas células depois de implantadas. Por isso fazem estudos com ratos imunodeprimidos, injetando esses preparados celulares em seu sistema vascular. Só após a comprovação de que essas células não provocam o crescimento de tumores, é que elas são aplicadas em seres humanos.

Célio Yano
Especial para a CH On-line / PR
09/08/05