Dois novos objetos acabam de ser acrescentados à já extensa lista de planetas localizados fora do Sistema Solar. Na busca por corpos celestes semelhantes à Terra e que tenham condições adequadas para abrigar vida, astrônomos descobriram os menores planetas extrassolares em tamanho e em massa detectados até hoje.
Desde 1995, quando foi encontrado o primeiro planeta extrassolar na órbita da estrela 51 Pegasi, cerca de 350 planetas já foram localizados fora do nosso sistema. A maioria deles é formada por gigantes gasosos como Júpiter. Mas, nos últimos dois anos, algumas dezenas de planetas com massas poucas vezes maiores que a da Terra (entre 5 e 20 vezes) foram descobertas.
O mais leve planeta extrassolar já detectado está em órbita da estrela Gliese 581, situada a 20,5 anos-luz do Sistema Solar (foto: Digital Sky Survey).
Agora pesquisadores da Universidade de Genebra (Suíça) encontraram o mais leve planeta extrassolar, com 1,9 vezes a massa da Terra. A descoberta, que em breve será publicada em uma revista especializada, foi anunciada à comunidade científica em abril em uma conferência em Londres (Inglaterra) e novamente apresentada durante a 27ª Assembleia Geral da União Astronômica Internacional (IAU), que se encerra hoje no Rio de Janeiro.
O novo planeta está na órbita da estrela Gliese 581, uma anã-vermelha com aproximadamente um terço da massa do Sol situada a 20,5 anos-luz do Sistema Solar. Chamado de Gliese 581e, o planeta se junta a outros três já detectados anteriormente ao redor da mesma estrela. O maior tem cerca de 15 vezes a massa da Terra. Os outros têm aproximadamente 5 e 7 vezes a massa do nosso planeta.
“É um dos sistemas mais próximos da Terra”, diz à CH On-line o astrônomo Michel Mayor, pesquisador da Universidade de Genebra e responsável pela descoberta do primeiro planeta extrassolar. Para detectar o novo planeta, Mayor e sua equipe usaram o espectrógrafo HARPS, instalado no Observatório Europeu do Sul, no Chile. O equipamento busca com alta precisão planetas similares à Terra em estrelas próximas.
Segundo o astrônomo, é difícil dizer se Gliese 581e é similar à Terra. “Muito provavelmente é um caso de planeta rochoso”, avalia. “Mas é muito quente para abrigar vida, porque está muito próximo da estrela.”
Mais recente modelo de zona habitável (em azul claro) no Sistema Solar (acima) e no sistema Gliese 581 (abaixo), com seus quatro planetas nomeados. As faixas azuis mais escuras representam possíveis extensões da zona habitável (arte: Franck Selsis).
Além de detectar Gliese 581e, o grupo corrigiu dados sobre a órbita de outro planeta ao redor da mesma estrela: Gliese 581d, que tem 7 vezes a massa da Terra e está em uma zona habitável do sistema. “É muito provável que seja um planeta com grandes oceanos na sua superfície e blocos de gelo”, diz Mayor.
Primo distante
O outro planeta extrassolar recém-descoberto é o Corot-7b, detectado pelo Telescópio Espacial Corot, desenvolvido pela França em colaboração com outros países europeus e o Brasil. O achado foi anunciado em fevereiro de 2009 em um simpósio em Paris (França) e o artigo que descreve o novo planeta deve ser publicado nos próximos meses em uma revista especializada.
O Telescópio Espacial Corot está em operação desde janeiro de 2007 (foto: projeto Corot).
Segundo a astrônoma Magali Deleuil, pesquisadora do Laboratório de Astrofísica de Marseille (França) e membro do grupo do projeto Corot que estuda planetas extrassolares, o Corot-7b tem 1,7 vezes o raio da Terra. “Além disso, também sabemos sua massa, o que nos permite determinar exatamente a densidade e a natureza do planeta”, afirma à CH On-line. “Mas ainda não podemos revelar esses dados”, lamenta.
Michel Mayor assegura que, em tamanho, o Corot-7b é o menor planeta extrassolar detectado até hoje. “Com base em seu raio, é possível estimar que ele tenha aproximadamente 4 vezes o volume da Terra”, completa.
Deleuil acrescenta que muito poucos planetas pequenos foram detectados ao redor de estrelas também pequenas. O Corot-7b fica na órbita de uma estrela com atividade moderada, semelhante ao Sol, situada a 490 anos-luz da Terra. “Esse é o primeiro planeta pequeno ao redor de uma estrela similar ao Sol”, destaca a astrônoma.
O Corot-7b fica muito próximo da estrela que orbita, a uma distância de 4,3 vezes o raio da estrela. “Quando olhamos para a estrela, não é possível ver o planeta, só a perturbação que ele causa no brilho dela”, explica Deleuil.
A pesquisadora diz que o Corot-7b é um planeta muito similar à Terra, mas, ao mesmo tempo, muito diferente, porque é muito quente. “A temperatura na sua superfície chega a cerca de 2.000 ºC”, afirma. “Por isso, não deve haver água e nenhuma vida seria possível.”
Ao que tudo indica, os novos integrantes do rol de planetas extrassolares não são bons candidatos a abrigar alguma forma de vida. Mas, segundo Michel Mayor, os pesquisadores estão na direção certa: “A busca por exoplanetas é o caminho para encontrar planetas gêmeos da Terra.”
Thaís Fernandes
Ciência Hoje On-line
14/08/2009