Imagine reunir o rigor e a perspicácia de Sherlock Holmes, o mais famoso detetive da literatura policial, e a genialidade do físico alemão Albert Einstein, talvez o maior cientista do século 20, na investigação de uma série de assassinatos de cientistas de um clube secreto. Pois essa improvável parceria é o que propõe o romancista francês Alexis Lecaye num livro recém-lançado.
Mistura de ciência e mistério, Sherlock Holmes & Einstein envolve o leitor em uma intrincada trama que mantém o suspense até o final, quando finalmente é revelada a autoria dos crimes — bem ao estilo dos livros de Arthur Conan Doyle, criador de Holmes.
Lecaye já publicou dezenas de romances policiais, mas esse é o primeiro lançado no Brasil, na coleção Creme do Crime. Nesse livro, a lógica e os instintos de Holmes — e de seu fiel escudeiro Watson — são desafiados pela astúcia da mente altamente racional, científica e brilhante do assassino, que se proclama defensor a qualquer custo da ciência.
Enviado por Holmes, o doutor Watson dá início às investigações em Berna, na Suíça. Lá, ele conhece os membros do clube Perpetuum Mobile. Ao construir máquinas que supostamente funcionariam sem o auxílio de uma fonte de energia externa, os sete cientistas membros do clube se dedicam à busca constante pela comprovação da existência de movimento perpétuo.
Enquanto isso, Holmes é seqüestrado por um grupo de bolcheviques exilados e perseguido por uma antiga e radical admiradora. Finalmente, ambos se ligam a um jovem cientista ainda desconhecido no início do século 20: Albert Einstein, que construía então sua carreira no serviço público, num escritório de patentes em Berna. O alemão os ajuda a compreender os métodos usados pelo assassino e a busca pelo motor de movimento perpétuo do clube.
Como explica o personagem Einstein, a construção de tal engenhoca nunca foi bem sucedida graças às duas leis da termodinâmica: a primeira diz que a energia de um sistema permanece constante, ou seja, não pode ser criada nem destruída; a segunda estabelece que é impossível haver transferência espontânea de calor de um objeto frio para outro mais quente.
O assassino sabe da impossibilidade de se criar uma máquina de movimento perpétuo — ele chega até ao requinte de demonstrar isso em sua série de assassinatos. No primeiro deles, o Dr. Gruz foi encontrado imerso em uma solução de bicloreto de cálcio dentro de uma garrafa fechada com uma rolha.
O fato de a temperatura do sistema Gruz-garrafa-solução permanecer constante — em acordo com o princípio de conservação de energia da primeira lei da termodinâmica — é crucial para a elucidação do crime. E esse é apenas o primeiro dos inúmeros enigmas científicos que Holmes desvenda com a ajuda de Einstein.
A narrativa de Sherlock Holmes & Einstein é construída sob o signo da lógica e do suspense. O livro é capaz de envolver até mesmo o leitor leigo, mas promete agradar especialmente aqueles que gostam e se interessam por ciência.
Sherlock Holmes & Einstein – no
caso dos cientistas assassinados
Alexis Lecaye (trad.: André Telles)
Rio de Janeiro, 2003, Jorge Zahar Editor
254 páginas
Liza Albuquerque
Ciência Hoje On-line
05/12/03