Elemento radioativo não afeta cromossomos


O samário-153 também pode ser usado para o diagnóstico de metástases ósseas. Associado ao complexo EDTMP,  ele se distribui pelas áreas afetadas (mais escuras)

Pacientes que sofrem de metástase óssea proveniente de câncer de mama, próstata ou pulmão têm como aliado o elemento radioativo samário-153, adotado como medicamento para diminuir as fortes dores. Embora esse radiofármaco já houvesse sido aprovado em testes clínicos, um estudo recente confirmou que seu uso não provoca impactos significativos no patrimônio genético dos pacientes.

A aplicação do samário-153 associado ao complexo EDTMP foi aprovada em 1995 pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) que, em conjunto com a Universidade de São Paulo (USP), continuou desenvolvendo estudos de acompanhamento da eficácia e dos efeitos colaterais do remédio. Faz parte desse acompanhamento o trabalho de doutorado desenvolvido pela pesquisadora Márcia Augusta da Silva, do Ipen, sob a orientação de Kayo Okasaki.

Márcia Augusta analisou ao microscópio óptico linfócitos sangüíneos periféricos (células do sistema imunológico) de pacientes sob tratamento com o radiofármaco e não encontrou quantidades significativas de aberrações cromossômicas nas amostras coletadas uma hora após a injeção intravenosa do elemento. Os resultados sugerem que a atividade do samário-153 não provoca efeitos tóxicos significativos no DNA do paciente.

A pesquisadora avaliou aberrações cromossômicas em células de dois grupos de indivíduos, que foram expostas a diferentes concentrações radioativas de samário-153: pessoas sadias e portadores de câncer tratados previamente ou não com rádio e/ou quimioterapia. “Somente nos pacientes que receberam rádio e quimioterapia foi observado um número significativo de aberrações cromossômicas”, afirma Márcia Augusta. “Essas aberrações foram ocasionadas pelo tratamento prévio, e não pela administração do samário-153.”

A colaboração do Centro de Medicina Nuclear da USP se deu no acompanhamento clínico e toxicológico dos pacientes sob tratamento e na coleta das amostras sangüíneas enviadas para o Ipen. Maria Inês Calil Cury Guimarães, pesquisadora da Faculdade de Medicina da USP, afirma que os testes confirmaram a adequação do samário-153 aos padrões aceitos internacionalmente para tratamentos com radiofármacos.

“Observamos melhora na dor de 80% dos 90 pacientes acompanhados e encontramos índices de toxicidade hematológica bastante aceitáveis para esse tipo de tratamento”, diz Maria Inês. “As análises da excreção da urina permitiram indicar a dose de radiação absorvida pela medula óssea e a quantidade do radiofármaco eliminada, e esses resultados foram bastante positivos.”

Devido aos resultados das pesquisas, Maria Inês procura incentivar médicos e oncologistas a difundir o uso do samário-153. “Seus efeitos benéficos são maiores do que os dos analgésicos mais usados nesse estágio da doença, e os efeitos colaterais são bem tolerados, o que proporciona uma melhor qualidade de vida ao paciente.”

Julio Lobato
Ciência Hoje On-line
11/12/03