Eles só pensam naquilo

 

       

Uma conversa de cinco minutos aparentemente inocente com uma desconhecida já basta para elevar consideravelmente a taxa de testosterona de homens. Isso é o que sugerem cientistas da Universidade de Chicago (EUA), que analisaram a relação entre a reação hormonal e o comportamento de homens em encontros breves e casuais com mulheres.

null

Detalhe da tela Casal espanhol diante de uma hospedaria (1900), do espanhol Pablo Picasso

Publicado na edição de novembro da revista Evolution and human behavior , o estudo coordenado pelo psicólogo James Roney pagou dez dólares a 39 voluntários de 18 a 36 anos para participarem de um experimento. Porém, os jovens desconheciam o real procedimento do teste do qual participariam. Acreditavam que estavam ali apenas para dar uma amostra de saliva.

“Acho que os homens alterariam seu comportamento se soubessem que as mulheres foram instruídas para conversar com eles”, disse Roney à CH On-line . “Afinal, para que tentar impressionar uma mulher se você sabe que ela está fingindo?”

Enquanto os demais aguardavam a vez na sala de espera, cada voluntário era chamado para um quarto ao lado a fim de ser examinado. Após a primeira coleta de saliva, um pesquisador entrava na sala acompanhado de um homem ou mulher. Sob o falso pretexto de ter esquecido um dos questionários que o voluntário teria de responder, o pesquisador deixava os dois sozinhos para conversarem durante cinco minutos. Foi escolhido ao acaso qual participante seria deixado com uma mulher ou com um homem.

Ao retornar à sala de testes, o pesquisador pedia ao voluntário que respondesse um questionário com suas impressões sobre a pessoa com quem havia conversado. Essa pessoa, homem ou mulher, também registrava sua percepção sobre o participante e seu comportamento durante a conversa. Uma segunda amostra de saliva foi recolhida 20 minutos após o início do experimento.

A análise das duas amostras mostrou que a breve interação com uma das cinco mulheres de 19 a 23 anos que participaram da pesquisa gerou um aumento de até 30% no nível de testosterona dos voluntários.

O resultado sugere que mecanismos hormonais similares aos de outros animais também funcionariam no regulamento do comportamento social humano — alguns vertebrados apresentam um aumento na taxa de hormônios sexuais quando parceiros em potencial exibem um comportamento de cortejo.

Os voluntários que tiveram um maior aumento de testosterona admitiram mais tarde que haviam considerado as assistentes mais atraentes que os demais participantes. Elas, por sua vez, puderam apontar esses voluntários como os que mais tentaram impressioná-las. Já no caso da interação com assistentes masculinos, não foi observada nenhuma mudança significativa na taxa hormonal dos participantes.

A mudança na taxa de testosterona foi menor entre os homens que relataram nos questionários que tiveram poucas experiências sexuais com mulheres. “Essa variável faz diferença em outras espécies de animais”, disse Roney. Ele acredita que o efeito da experiência sexual na atividade hormonal humana deve ser mais estudado.

Liza Albuquerque
Ciência Hoje On-line
17/11/03