Empregos mais estáveis para elas

Quando o assunto é mercado de trabalho, a vantagem tende sempre para o lado dos homens. Melhores salários e mais facilidade de ascensão na empresa são alguns dos fatores que lhes garantem posição privilegiada. Mas, em tempos de desemprego crescente, é a estabilidade que chama a atenção dos especialistas. E, nesse quesito, as mulheres levam a melhor — pelo menos no setor formal da economia. 

null

O gráfico acima retrata a evolução da taxa de rotatividade no mercado de trabalho de homens (azul) e mulheres (lilás)

 

Foi o economista Hailton Madureira de Almeida que, para a obtenção do título de mestre pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), desenvolveu uma pesquisa que relaciona a rotatividade dos postos de trabalho formais e o sexo do trabalhador. Suas conclusões indicam que as mulheres ocupam por mais tempo um mesmo cargo, mas não podem ser estendidas a toda economia, já que 42,7% do mercado brasileiro é formada por trabalhadores que não têm carteira assinada.

Hailton baseou sua pesquisa nas informações fornecidas pelo Ministério do Trabalho através do Relatório Anual de Informações Sociais (Rais). Ele acompanhou, entre 1985 e 2001, todas as empresas que fornecem seus dados para o Ministério, interessado em saber quantas pessoas foram admitidas e demitidas, e quantos postos de trabalho foram criados e destruídos.

Em 2001, ano de conclusão da pesquisa, o Rais cobria 90% do setor formal, o que compreende um universo de 2 milhões de estabelecimentos, com 19 milhões de trabalhadores celetistas (regidos pelas leis trabalhistas) e 5 milhões de estatutários (servidores públicos). Além da divisão por gênero, Hailton considerou outras variáveis, como o tamanho da firma, a região em que se localiza e o setor de atividades — que foi segmentado entre indústria, construção civil, comércio, serviço e agronegócio.

Em todas as categorias, as mulheres têm menores taxas de admissão e demissão do que os homens. Mas o pesquisador não atribui essa estabilidade a fatores como produção ou desempenho, e sim ao setor em que estão inseridas. “67% das mulheres estão no setor de serviços, o mais estável da economia”, justifica. “Já os homens ocupam, em grande parte, postos mais vulneráveis a crises e que dependem de uma demanda sazonal, como a construção civil.”

O Brasil apresenta uma das maiores taxas de rotatividade no mercado de trabalho do mundo. Tal excesso gera conseqüências negativas, como o aumento da informalidade e a diminuição da produtividade, uma vez que desestimula o investimento, por parte da firma, em treinamentos para os funcionários.

O pesquisador não propõe, em sua dissertação, políticas públicas que poderiam ser adotadas para reverter essa situação sem uma intervenção autoritária do Estado. “A baixa rotatividade deve ser um desejo e não uma imposição para trabalhadores e empregadores”, defende. Hailton ressalta que é necessário criar incentivos para o investimento em capital humano sem diminuir a eficiência produtiva da economia.

Carolina Benjamin
Ciência Hoje On-line
26/05/04