Encontrado mais antigo osso de ‘braço’

Um fóssil encontrado no estado da Pensilvânia (EUA) pode ajudar a determinar uma incógnita na história da vida no planeta: a época exata em que alguns animais deixaram a água para viver na terra. Com mais de 365 milhões de anos, o osso pertencia ao membro anterior de um quadrúpede parecido com uma salamandra. Trata-se da evidência mais antiga da transição que levaria aos primeiros passos da vida terrestre dos vertebrados.

O fóssil encontrado corresponde ao úmero – que, na espécie humana,
é o osso da primeira metade do braço (imagens: Kalliopi Monoyios)

Relatada na revista Science de 2 de abril, a descoberta do úmero fossilizado foi feita pelos paleontólogos Ted Daeschler, da Academia de Ciências Naturais da Filadélfia (EUA), Neil Shubin e Michael Coates, da Universidade de Chicago (EUA). Eles acreditam que a descoberta possa ser uma peça chave na solução do quebra-cabeça evolucionário dos vertebrados, pois oferece mais uma pista de que as nadadeiras dos peixes começaram a se transformar em membros ainda na água, e se tornaram uma vantagem evolutiva quando esses animais começaram a colonizar o meio terrestre.

O osso foi encontrado em um local inusitado: às margens de uma auto-estrada. Vários outros fósseis já haviam sido encontrados na área, mas esse em particular havia sido ignorado pelos cientistas desde sua escavação em 1993, pois grande parte dele estava encapsulada em uma rocha de arenito. O úmero pertence a uma espécie que nunca havia sido observada antes, ainda não batizada.

O osso dava ao animal uma importante vantagem: a capacidade de levantar sua cabeça. Nele, os cientistas identificaram um espaço grande o suficiente para músculos, o que possibilitaria a realização de um movimento vertical, parecido com uma flexão de braço, para que o animal respirasse fora da água. Provavelmente, ele também seria capaz de rastejar e se fixar no leito de riachos.

 

O fóssil e seu equivalente em peixes e humanos. Há cerca de 365 milhões de anos, ele evoluiu para sustentar um membro em vez de uma barbatana

Ao ser comparado com úmeros de outros animais quadrúpedes que também viveram no período Devoniano (400 a 350 milhões de anos atrás), o osso analisado possui uma forma completamente distinta. Isso sugere que, naquele período, já existia uma grande diversidade de tipos de membros, o que poderia explicar como foram feitas misteriosas seqüências de “pegadas” em rochas de mais de 360 milhões de anos que, na época, estavam dispostas no fundo de um rio.

 

Em comentário que acompanha o artigo dos cientistas americanos, a paleontóloga Jennifer Clack, da Universidade de Cambridge (Inglaterra) analisa o impacto da descoberta. “Os autores revelam como um mero fragmento de esqueleto pode ser usado para traçar inferências sobre a natureza e a seqüência de mudanças que devem ter ocorrido na evolução da locomoção terrestre dos quadrúpedes”, afirma.

Liza Albuquerque
Ciência Hoje On-line
06/04/04

 

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