Tornar nossas cidades sustentáveis. Foi esse o desafio que motivou as 2.321 pesquisas inscritas na 25ª edição do Prêmio Jovem Cientista deste ano. A inspiração para os projetos vencedores – anunciados ontem (8/11) em Brasília – não veio de longe: está em áreas aonde o saneamento não chega, nas quais o plástico leva anos para se degradar ou mesmo na meta dos centros urbanos de poupar energia.
A questão energética esteve no centro das preocupações de Kaiodê Biague, estudante de arquitetura do Centro Universitário Izabela Hendrix, em Belo Horizonte (MG). Agraciado com o primeiro lugar na categoria Ensino Superior, o jovem pesquisador, interessado em conciliar mobilidade e energia limpa, propôs um modelo de aproveitamento da energia solar para geração de energia elétrica.
A ideia é captar a energia do Sol por meio de placas especiais, inicialmente instaladas no ‘telhado’ das edificações do sistema de trânsito rápido de ônibus, o BRT (de Bus Rapid Transit, em inglês). O modelo de transporte opera de forma semelhante ao metrô – embora na superfície – e está sendo implantado em dez cidades brasileiras, entre elas Belo Horizonte, como parte dos preparativos para a Copa de 2014.
Biague explica que escolheu o BRT porque seus terminais de integração e estações de transferência têm uma extensa área de cobertura exposta à irradiação solar. “Ainda assim, as placas podem ser instaladas em qualquer local onde não haja barreiras para a luz do Sol”, disse à CH On-line. “No topo de alguns prédios, por exemplo, é comum as caixas d’água fazerem sombra e prejudicarem essa captação.”
As placas usadas para captar essa energia são compostas por células de silício, chamadas fotovoltaicas, que funcionam como minibaterias. Nelas ocorre uma reação química que gera corrente elétrica e pode ser armazenada para uso posterior. Biague pensa em aproveitá-la em projetos de iluminação pública, na alimentação do próprio sistema BRT e também associada à rede elétrica convencional.
Outra vantagem do modelo é a economia de recursos. Segundo o vencedor do prêmio, a energia hidrelétrica é produzida hoje longe dos grandes centros e, por isso, perde-se uma parte significativa dela no percurso de transmissão. “Com esse sistema descentralizado, que pode captar irradiação solar em vários pontos diferentes, essa perda pode ser reduzida.”
Rumo à fase experimental
Para desenvolver sua pesquisa, o estudante considerou algumas variáveis ligadas à inclinação do Sol num programa de computador. Num segundo momento, percorreu os corredores BRT em implantação na cidade onde mora para observar as condições físicas do local e as possíveis interferências.
Mas ainda muitos aspectos precisam ser avaliados até que esse tipo de tecnologia se torne viável. “Eu tentei compensar o fato de não ser engenheiro com os conhecimentos do curso técnico que fiz em edificações, mas a ideia agora é passar para a fase experimental, testar os conceitos e ver o quão viável é o projeto”, reconhece Biague.
O estudante já adianta algumas questões, como o custo da placa – que precisa ser importada – e a viabilidade econômica do projeto. “Essa tecnologia, produzindo energia, levaria três anos para ser paga”, ponderou o pesquisador. “Por outro lado, a demanda por essa tecnologia tem crescido e, por isso, seu preço está caindo no mercado.”
Segundo o presidente do CNPq Glaucius Oliva – que fez o anúncio dos vencedores em Brasília –, os três projetos premiados (nas categorias Ensino Médio, Ensino Superior e Graduado) mostram que é possível fazer ciência de qualidade com reconhecimento nacional e internacional olhando para os grandes desafios da sociedade. “O Prêmio Jovem Cientista procura destacar pesquisas que tenham sido inspiradas em problemas importantes do nosso país”, afirmou.
Carolina Drago*
Ciência Hoje On-line
*A jornalista viajou a Brasília a convite do Prêmio Jovem Cientista.
Este texto foi atualizado para esclarecer a seguinte questão:
O uso de placas compostas por células fotovoltaicas como as empregadas no projeto de Kaiodê Biague é uma das formas de se captar energia solar. Existem outras. (21/11/2011)