Entrevista com Charles Paxton

CH On-line – Quando o senhor começou a se interessar pelo estudo dos monstros aquáticos?
Charles Paxton – Sempre me interessei por monstros aquáticos, a ênfase é que mudou. Quando garoto, eu gostava deles porque eram ferozes e misteriosos. Agora, o que me interessa é que eles, além de misteriosos, representam anomalias. Tenho interesse pela epistemologia (dou aula em uma disciplina de métodos científicos na Universidade de Saint-Andrews), portanto tenho grande interesse pelas questões “Como conhecemos / O que conhecemos”. Me interesso pela forma como a ciência lida com questões limítrofes. Monstros aquáticos permitem-me investigar essas questões, usando meus conhecimentos como biólogo marinho. Posso me perguntar se é razoável acreditar que existem grandes animais desconhecidos (um trabalho meu de 1998 indica que sim), se esses animais estão sendo avistados pelas pessoas (não, na maior parte dos casos) e se eles são observados antes de sua descoberta (não há certeza).

Qual é a mais intrigante ocorrência de monstro aquático na sua opinião?
Há algumas observações detalhadas e estranhas como a serpente marinha avistada do HMS Daedalus em 1848 que, se tiver sido descrita com precisão, não parece bater com nenhum animal conhecido. Uma questão possível é se a descrição foi precisa. Há ainda uma ocorrência em 1905 na costa brasileira, quando um animal similar a uma serpente marinha foi avistado por dois zoólogos britânicos em um iate. Eles até relataram o caso na revista  Proceedings of the Zoological Society of London !

Quais serão seus próximos passos no estudo de monstros aquáticos?
Alguns colegas e eu estamos pesquisando a taxa de descoberta de animais marinhos desconhecidos. Um de meus próximos passos será fazer uma análise estatística da maior quantidade possível de observações de serpentes marinhas.

O senhor já estudou ou pretende estudar o monstro do lago Ness? Quais são as hipóteses mais plausíveis já formuladas para explicá-lo?
Nunca estudei essa criatura, mas sou familiar com a biologia do lago Ness e tenho dúvidas sobre se ele seria produtivo o suficiente para suportar um monstro (ou monstros). Creio que monstros têm variadas origens – embustes, mentiras, expectativas, interpretações errôneas de animais familiares, não-reconhecimento de animais pouco conhecidos e, com probabilidade muito pequena – mas não nula –, animais ainda desconhecidos.

O senhor recebeu o prêmio Ig Nobel de biologia em 2002 por seu estudo sobre o comportamento de cortejo de avestruzes em relação a humanos . Como o senhor reagiu à notícia do prêmio?
Fiquei totalmente surpreso, porque havia feito esses experimentos algum tempo antes [em 1998] e eles eram bastante sérios na época, devido à importância da indústria de criação de avestruzes (embora meus amigos brincassem um pouco comigo por causa desse trabalho). Na verdade, na primeira vez que me procuraram, pensei que tivesse recebido o prêmio por causa de meus estudos sobre monstros marinhos.

O senhor se orgulha de ter recebido o Ig Nobel?
Me interesso muito pela divulgação científica e por isso não tenho problema com os Igs, embora eles sejam uma faca de dois gumes… Os prêmios contemplam a ciência divertida, mas de qualidade, e também coisas que são, bem, digamos, menos científicas. Espero que nosso estudo se enquadre na primeira categoria! Portanto, sim, fiquei orgulhoso pelo prêmio e fui a Harvard recebê-lo – foi extremamente divertido.

Para saber mais, visite o site sobre
monstros marinhos criado por Charles Paxton.

Bernardo Esteves
Ciência Hoje On-line
11/04/05