Epilepsia em xeque

 

Pacientes com epilepsia têm agora uma nova esperança. Um tratamento inédito, baseado na aplicação de células-tronco, vem apresentando resultados que superam as melhores expectativas. Em estudo conduzido pelo neurologista Jaderson Costa, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), oito pacientes foram submetidos ao novo método e apresentaram melhoras significativas.

A ideia do tratamento é simples. “Retiramos células-tronco da medula óssea do paciente e, por meio de um cateter introduzido na artéria femural, chega-se à artéria cerebral correspondente ao local da alteração. As células-tronco são aí injetadas, irrigando a área alterada pelo quadro epiléptico”, explica Costa. Seis meses após o início do procedimento, os pesquisadores contabilizam ganhos animadores.

Atualmente, casos de epilepsia costumam ser tratados com remédios. Porém, cerca de 30% dos pacientes não respondem à medicação. Nesse caso, a alternativa é a cirurgia. “Mas nem todos os pacientes são elegíveis para esse procedimento, e uma intervenção cirúrgica dessa natureza sempre envolve riscos consideráveis, visto que o cérebro é uma área bastante delicada”, diz Costa.

A epilepsia decorre de descargas elétricas anormais em determinada região do cérebro. Pode ser causada por fatores capazes de alterar a atividade regular dos neurônios, como golpes na cabeça, infecções cerebrais, abuso de drogas ou álcool, entre outros.

Na maioria dos casos, porém, as causas que levam ao desenvolvimento da doença são desconhecidas. Em geral, pessoas com epilepsia podem apresentar convulsões, espasmos musculares e perda de consciência. Estima-se que a doença atinja cerca de 2% da população mundial.

Reconhecimento
A equipe do neurologista da PUCRS trabalha no projeto há sete anos. “Inicialmente, estudamos o potencial das células-tronco para controlar crises epilépticas em animais. Como os resultados foram satisfatórios, decidimos em 2008 fazer o primeiro teste em seres humanos”, conta. Para isso foram selecionados pacientes com epilepsia no lobo temporal, região do cérebro localizada acima das orelhas. É um quadro que frequentemente não pode ser tratado só com remédios, e a alternativa é a cirurgia.

A aplicação de células-tronco nos pacientes funcionou bem, sugerindo um novo horizonte para o tratamento do distúrbio. Até março de 2010, quando a equipe pretende concluir a primeira parte do estudo, cerca de 20 pacientes deverão ter sido testados. Costa não esconde seu otimismo: “Com base no que obtivemos até agora, as perspectivas são bastante promissoras.”

As pesquisas estão sendo feitas no Instituto do Cérebro e no Hospital São Lucas, ambos vinculados à PUCRS. O projeto foi apresentado no 5º Congresso Brasileiro de Cérebro, Comportamento e Emoções, promovido em Gramado (RS) em junho último, e no 7º Encontro Anual da Sociedade Internacional de Pesquisas em Células-tronco (ISSCR), realizado no início deste mês em Barcelona, Espanha.

Henrique Kugler
Especial para a CH On-line / PR
22/07/2009