Essa segunda-feira (15/8) foi o primeiro dia de aula para uma turma de 200 alunos de química. O curso, que acontece na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), vai até a quinta-feira (18/8), e entre os ‘professores’ estão nada menos que quatro ganhadores do prêmio Nobel.
Obviamente trata-se de uma atividade especial, que de grandioso não tem só o nome – Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA) em Produtos Naturais, Química Medicinal e Síntese Orgânica – Soluções integradas para o mundo de amanhã. Além dos quatro laureados, outros 16 pesquisadores renomados conversarão com os estudantes de graduação e pós-graduação que tiveram de passar por um processo seletivo para participar do evento.
“É como uma miniLindau em São Paulo”, define a coordenadora geral do encontro, Vanderlan Bolzani, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), referindo-se à reunião de prêmios Nobel que ocorre anualmente na ilha de Lindau, no sul da Alemanha. Na última edição, a cidade germânica congregou 23 laureados e quase 600 jovens pesquisadores.
“Em tamanho é menor, mas o clima é o mesmo: fazer com que os alunos não se inibam e entrem em contato com cientistas que se envolveram com descobertas importantes.” Bolzani conta que escolheu para a primeira ESPCA em química temas que considera essenciais para o futuro da pesquisa. “A química orgânica é a química da modernidade e do futuro”, afirma.
O encontro é organizado pela Unesp, Unicamp, Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal de São Carlos e tem o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp) e da Sociedade Brasileira de Química. As palestras estão sendo transmitidas em tempo real pela internet.
Brasil em evidência
Considerado pela Unicamp o maior evento comemorativo do Ano Internacional da Química no Brasil, a ESPCA, ao reunir tantos pesquisadores renomados, evidencia a importância cada vez maior que o país tem, em termos de pesquisa, no cenário mundial.
A israelense Ada Yonath, uma das vencedoras do prêmio Nobel de química de 2009, conta que ao chegar ao Brasil foi questionada por alguns jornalistas sobre o que acha da ciência feita em países em desenvolvimento. “Respondi que não considero o Brasil um país em desenvolvimento.” Yonath foi laureada juntamente com o indiano Venkatraman Ramakrishnan e o estadunidense Thomaz Steitz por pesquisas sobre a estrutura e função do ribossomo.
À CH On-line, o japonês Ei-ichi Negishi, prêmio Nobel de química de 2010, disse que considera o encontro em Campinas “maravilhoso”. Negishi dividiu a láurea com o também japonês Akira Suzuki e com o estadunidense Richard Heck pelo desenvolvimento de processos que utilizam o paládio como catalisador em sínteses orgânicas. “Esse tipo de atividade desperta nos estudantes o espírito científico; com isso é só uma questão de tempo para o Brasil ter um Nobel”, arrisca.
A expectativa é a mesma de Fernando Ferreira Costa, reitor da Unicamp, que na cerimônia de abertura do encontro disse “esperar muito” que na plateia estivesse um futuro ganhador do Nobel.
Além de Yonath e Negishi, o encontro conta com a participação de prêmios Nobel de 2005, o estadunidense Richard Schrock, e de 2002, o suíço Kurt Wüthrich. Em meio à maratona de aulas, na manhã de quinta-feira os estudantes selecionados para integrar o encontro poderão conversar por quase duas horas com os quatro laureados.
Vanderlan Bolzani, coordenadora do encontro, garante que esse é apenas o primeiro de vários eventos nesse formato, mas faz uma ressalva quanto a participar novamente da organização geral. “Essa escola é fascinante, mas tão trabalhosa… Outras pessoas certamente vão se prontificar em organizar”, diz, em tom de brincadeira.
Célio Yano
Ciência Hoje On-line/ PR