Esfíncter artificial

Oclusor de colostomia. O aparelho, implantado sob a pele, funciona com uma fita presa em volta do intestino, comandada por um minimotor elétrico. (Foto cedida por Josuê Bruginski de Paula)

Uma prótese para pessoas que passaram por cirurgia de colostomia (retirada total ou parcial do intestino e do reto e construção de uma comunicação entre o cólon e o meio externo) deverá propiciar o retorno desses pacientes às suas atividades normais. O protótipo do esfíncter artificial, criado pelo médico e engenheiro Josuê Bruginski de Paula, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), consiste basicamente em uma fita presa ao redor do intestino (oclusor) comandada por um minimotor elétrico. O equipamento devolve ao paciente a capacidade de reter fezes.

Diferentes motivos levam pessoas a enfrentar uma colostomia, como malformações, acidentes e tumores. Nesse procedimento, a parte preservada do intestino é desviada e conectada a uma abertura feita no abdome. Ou seja, o paciente perde o controle sobre a eliminação das fezes, que passam a ser recolhidas por meio de uma bolsa plástica própria, aplicada na região abdominal. As bolsas variam em tamanho, modelo e sistema de fixação (algumas possuem filtros de odor). Mas, de acordo com Bruginski, mesmo os melhores acessórios não previnem completamente vazamentos ou outros acidentes constrangedores. “A adaptação dos pacientes envolve várias etapas, que incluem fases de depressão e revolta”, diz. Calcula-se que há mais de 2,3 milhões de colostomizados no mundo, segundo levantamento feito em 1997 pela Associação Internacional dos Ostomizados.

O bioengenheiro da PUCPR iniciou os estudos sobre a construção de um esfíncter artificial em 1990, durante o curso de mestrado em engenharia elétrica, realizado na Universidade Estadual de Campinas (SP). A pesquisa foi levada adiante em seu doutorado, também em engenharia elétrica, na mesma universidade. Bruginski fez simulações em laboratório, usando o protótipo em cólon de animais, em ensaios in vitro , e verificou a capacidade do oclusor de suportar pressões superiores às encontradas no intestino, sem emissão de gases. O aparelho foi capaz de se fechar suavemente sobre o intestino.

Ensaio in vitro do oclusor de colostomia. O teste mostrou que o equipamento pode suportar pressões superiores às encontradas no intestino, sem emissão de gases. (Foto cedida por Josuê Bruginski de Paula)

O corpo do primeiro protótipo foi construído com o polímero PTFE (politetrafluoroetileno, o teflon). Sua engrenagem é feita de náilon, aço e cobre, e o aparelho é revestido por silicone. “A prótese, por ser implantada sob a pele, deve ser leve e compacta”, explica. O primeiro protótipo, denominado Oclusor de Colostomia Implantável Ativo, é triangular e pesa 194g.

A expectativa é de que o esfíncter artificial facilite a reabilitação dos colostomizados. Segundo o bioengenheiro, a adaptação dos pacientes depende de vários fatores, como idade, estrutura psicológica, apoio familiar e o motivo pelo qual a colostomia foi necessária. “A prótese permite que o paciente controle conscientemente a abertura e o fechamento do esfíncter”, explica. “Assim, ele está seguro de que não haverá eliminação de fezes em momentos inapropriados.” Até agora, quando um usuário de bolsa coletora vai ao cinema, por exemplo, ele não sabe se haverá ou não eliminação de fezes durante aquele período. “Com a prótese é diferente, pois as fezes ficam retidas internamente.”

Prêmio
Junto com outros cinco finalistas, o projeto do esfíncter artificial disputa o prêmio da Fundação Altran, empresa européia de consultoria em tecnologia e inovação. Único brasileiro entre os finalistas, Bruginski concorre com pesquisadores franceses ao prêmio de 1 milhão de euros, a ser convertido em consultoria em pesquisa. O projeto vencedor receberá orientação sobre gerenciamento e design , entre outros itens, e será industrializado. Esta é a 10 a edição do prêmio anual da Fundação Altran, que selecionará o criador da melhor proposta baseada no tema ‘reconstruindo o corpo humano através de inovação tecnológica’. No dia 7 de setembro, os seis finalistas farão uma apresentação oral de seus projetos em Paris para uma comissão julgadora formada por 15 especialistas ligados à pesquisa em medicina, biologia e engenharia. Com base nessas apresentações, os jurados definirão o vencedor, que será anunciado no dia 1 o de outubro.

Caso o projeto proposto pelo bioengenheiro da PUCPR seja o vencedor, o plano é construir outro protótipo para testes. Segundo Bruginski, é preciso aprimorar o equipamento, com algumas modificações na tecnologia e no desenho: “Uma redução de seu tamanho e peso e o uso de um controle remoto facilitarão a implantação e permitirão que o paciente abra e feche o esfíncter no momento adequado”. Os passos para tornar o segundo protótipo um dispositivo médico são testes em animais e em humanos voluntários, liberação para uso e industrialização. O objetivo é garantir a continência do paciente por oito horas, melhorando significativamente sua qualidade de vida.

Helen Mendes
Especial para a CH On-line / PR
05/09/2007