Esporte paralímpico: tecnológico e inclusivo

As Paralimpíadas do Rio de Janeiro acabaram de começar e o Brasil se enche de expectativa para a conquista de muitas medalhas: a equipe paralímpica brasileira tem um histórico de desempenho invejável. Isso não se deve somente ao talento e esforço de nossos paratletas, mas também aos investimentos em tecnologia, que contribuem para aumentar a performance dos competidores.

Em pouco mais de 10 anos de competições internacionais, nossos paratletas evoluíram muito – foram da 37a colocação nas Paralimpíadas de Barcelona (1996) para a 24a em Sidney (2000), 14a em Atenas (2004), 9a em Pequim (2008) e 7a em Londres (2012). Tal desempenho deve-se à articulação efetiva entre ciência e tecnologia. A primeira nasce nas universidades e laboratórios de pesquisa científica. A segunda, por sua vez, vem com a aplicação do conhecimento científico em produtos tecnológicos.

A superação de limites do paradesporto brasileiro é consequência de vários fatores, entre eles a formação de profissionais de educação física que ajudam na preparação de atletas; o uso de novos métodos de condicionamento físico; a aplicação dos conhecimentos em biomecânica na avaliação dos movimentos e dos limites corporais para o alto desempenho; e o aprimoramento e a inovação na confecção de equipamentos e materiais esportivos de alta qualidade.

Desde o surgimento do esporte adaptado, na década de 1940, a tecnologia disponível possibilita que as mais diversas deficiências possam ser minimizadas. Por um lado, permite ao profissional de reabilitação melhorar seus procedimentos terapêuticos; por outro, permite à pessoa com deficiência retomar uma vida de qualidade, com autonomia e melhoria da autoestima. As inovações tecnológicas dos produtos especialmente desenvolvidos para os paratletas têm resultado em equipamentos como cadeiras de rodas, órteses e próteses de melhor qualidade, tanto do ponto de vista estético quanto funcional.


Cadeiras de rodas leves e flexíveis permitem aos atletas paralímpicos do basquete manobras impressionantes.
(foto: CPB)

O desenvolvimento científico não contribui apenas para a melhoria de materiais e equipamentos, mas também influencia as mais diversas áreas que dão suporte à organização e preparação de uma equipe paralímpica: medicina, educação física, fisioterapia, psicologia, nutrição, marketing, engenharias.

 

Alto rendimento e inclusão

Há, no Brasil, várias iniciativas para o desenvolvimento de dispositivos e equipamentos para avaliação e treinamento esportivo de pessoas com deficiência. Alguns exemplos podem ser encontrados no recém-criado Laboratório de Inovação e Empreendedorismo em Tecnologia Assistiva, Esporte e Saúde (LIETEC), da Universidade Federal de São Carlos (SP), bem como no renomado Centro Nacional de Referência em Tecnologia Assistiva do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer, em Campinas (SP).

Quando se trata de esportes paralímpicos, os equipamentos e instrumentos desenvolvidos devem ter elevada performance, resistindo aos esforços exigidos em uma competição de alto nível.

O desenvolvimento tecnológico aliado às pesquisas nas universidades brasileiras tem sido o grande responsável pela inclusão de atletas com deficiência física no mundo do esporte.


Graças à tecnologia, não é raro que atletas com próteses de membro inferior consigam desempenho equivalente ao de atletas sem deficiência física. (foto: Marcio Rodrigues/MPIX/CPB)

Atualmente, é comum vermos atletas com próteses de membro inferior que permitem desempenho atlético equivalente ao de atletas sem deficiência física. Há próteses de joelho e de pernas com software e hardware capazes de obter informações sobre a força de contato com o solo e controle remoto para ajuste da velocidade das passadas e do movimento do joelho conforme o terreno em que se encontra o atleta, dentre outras características.

As especificidades das modalidades esportivas permitiram, por exemplo, que sistemas hidráulicos fossem desenvolvidos para saltos em distância e altura no atletismo, de forma a simular o que o corpo humano faz, preservando a integridade das articulações e amortecendo os impactos do pé com o solo. Já a pesquisa científica interdisciplinar, como a interação da educação física e da fisioterapia com a engenharia de materiais, resultou no desenho da lâmina que forma o pé da prótese de corredores, formada por dezenas de finas camadas de fibra de carbono, que lhe conferem leveza e flexibilidade.


Próteses com alta qualidade e baixo custo
são desenvolvidas no Brasil tanto para
atletas quanto para qualquer outra pessoa
com necessidade especial.
(foto: Marcio Rodrigues/MPIX/CPB)

Para as atividades diárias, o pé da prótese pode receber o mesmo material, mas com um design mais próximo do pé natural, permitindo o uso de vestimentas e calçados.

Alguns atletas podem não usar seu aparato tecnológico de competição no seu cotidiano. Dependendo da modalidade, o atleta necessita apenas de um suporte adaptado (como o suporte para lançamento de disco), enquanto diariamente pode utilizar uma prótese de perna ou cadeira de rodas, conforme a preferência ou necessidade.

O desenvolvimento dessas tecnologias contribui também para melhorar a qualidade de vida das demais pessoas com deficiência. Os resultados alcançados no mundo das competições podem contemplar as necessidades de reabilitação física e motora de quem não é atleta de alto rendimento, permitindo que esses indivíduos usufruam em suas atividades diárias de dispositivos como uma cadeira de rodas leve e de fácil manuseio, ou próteses e órteses com alta qualidade e baixo custo.

Por promover tantos benefícios na inclusão de pessoas com deficiência, as tecnologias relacionadas ao esporte paralímpico no Brasil precisam que a interação entre universidade e empresa seja cada vez mais eficiente. Apesar dos grandes incentivos financeiros nesse sentido, ainda há muito que ser feito, principalmente para proporcionar ao usuário final, a pessoa com deficiência, o conhecimento
científico e tecnológico transformado em materiais e equipamentos de alta qualidade e baixo custo.

 

José Marques Novo Jr.
Laboratório de Inovação e Empreendedorismo em Tecnologia Assistiva, Esporte e Saúde (LIETEC)
Departamento de Educação Física e Motricidade Humana
Universidade Federal de São Carlos