Uma espuma de poliuretano, que pode se decompor em apenas dois anos, está chegando ao mercado. Criada por cientistas do Centro de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agronômicas (CPQBA) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pela empresa Kehl Polímeros, a Bioespuma, marca já registrada para o produto, pode substituir o isopor tradicional em várias aplicações.
Comparação de blocos de espuma “normal” e “degradado”.
A Bioespuma é obtida a partir de produtos naturais renováveis — basicamente derivados de vegetais, como cana-de-açúcar, soja e mamona — e do petróleo (apenas 30% de sua composição). Esses ingredientes são tratados por rotas químicas tradicionais que não utilizam microrganismos e se transformam no poliol — grupos funcionais hidroxilas — que dá origem à Bioespuma.
Todos os materiais que formam a espuma são biodegradáveis. “Fizemos testes no laboratório do CPQBA, seguindo as normas da American Society for Testing and Materials (ASTM) aceitas mundialmente. A Bioespuma se degrada em dois anos na presença do oxigênio e em torno de três anos em ambientes sem oxigênio”, diz o químico Ricardo Vicino, coordenador da pesquisa. Segundo Vicino, a decomposição pode ocorrer em até seis meses em ambientes que favoreçam o desenvolvimento de microorganismos, como um lixão a céu aberto.
Hortaliças plantadas na bioespuma.
“Existem três nichos de mercado onde a Bioespuma pode atuar. Um é o de calço de embalagens para a indústria eletroeletrônica. Outro é na área agrícola, onde ela pode ser usada como substrato de crescimento para mudas e sementes. O terceiro nicho seria o de embalagens descartáveis para alimentos”, diz Vicino. “No setor agrícola, a Bioespuma substituiria a espuma fenólica, e na área de embalagens, o poliestireno expandido (EPS), que pode levar até 500 anos para se decompor”, explica o coordenador da pesquisa.
A Bioespuma deve chegar ao mercado em aproximadamente 60 dias. Os custos para a sua produção são inferiores aos do mercado de espumas tradicionais, que utilizam microorganismos para a obtenção do produto. “De 1994, quando começamos a pesquisa, até hoje, gastamos apenas R$ 700 mil”, conta Vicino. Toda a interação entre a Kehl Polímeros e a Universidade foi coordenada pelo Escritório de Difusão e Serviços Tecnológicos (EDISTEC) da Unicamp, que auxiliou no processo de patente da Bioespuma.
Leonardo Zanelli
Ciência Hoje On-line