Com o aquecimento global já em curso e diante de previsões nada animadoras sobre o futuro do clima, a comunidade científica mundial corre contra o relógio em busca de soluções para contornar o problema. É nesse contexto que despontam as tecnologias de captura e armazenamento de gás carbônico (CCS, na sigla em inglês).
A ideia por trás dessas tecnologias é a mesma: capturar o gás carbônico da atmosfera ou de qualquer outra fonte, concentrá-lo e injetá-lo em formações geológicas subterrâneas, tanto no continente quanto no oceano.
Como a diminuição do uso de combustíveis fósseis, grandes vilões do aquecimento global, e o rearranjo ecológico do uso da terra, fundamental para contornar o problema, ainda estão longe de serem concretizados, o CCS surge como uma boa alternativa para complementar os esforços globais de mitigação das mudanças climáticas.
“Com a melhoria de tecnologias antigas e a descoberta de outras novas, devemos atingir uma emissão negativa de gases de efeito estufa em 2080”, estima o engenheiro ambiental Tetsuya Suekane, que pesquisa novas técnicas para o controle dos gases causadores do efeito estufa na Universidade de Tokushima, no Japão.
O pesquisador explica que as emissões negativas são importantes para reverter a tendência atual de aumento da temperatura média global e garantir a segurança climática em longo prazo. Mas, para isso, não basta emitir menos, é preciso capturar os compostos já liberados para a atmosfera.
Grandes depósitos
Suekane participou de ciclo de palestras realizado em março, na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), sobre tecnologias para mitigação das mudanças climáticas. Na ocasião, ele e outros pesquisadores japoneses apresentaram diferentes possibilidades de aplicação do método de captura e armazenamento de carbono.
Uma das possibilidades destacadas foi o armazenamento do gás carbônico em formações salinas, onde ele se incorporaria à água salgada, imprópria para consumo.
Estima-se que a capacidade de armazenamento nesses locais – já aproveitados por indústrias químicas e na produção de energia geotérmica – pode ultrapassar mil gigatoneladas de gás carbônico, o maior potencial entre os sítios estudados.
Por outro lado, a injeção de gás carbônico nessas formações inviabilizaria definitivamente o uso da água para consumo humano, algo que poderia ocorrer com o desenvolvimento de novas tecnologias de dessalinização.
Outra alternativa mencionada foi o uso de grandes reservatórios de petróleo e gás natural, que, conforme são esvaziados, ganham espaço para a introdução do gás carbônico. O potencial de armazenamento desses reservatórios é de aproximadamente 900 gigatoneladas do gás.
Com a descoberta de novos campos, esse número pode aumentar exponencialmente – as reservas do pré-sal brasileiro, por exemplo, não estão computadas nesse balanço.
Tecnologia ainda cara
Embora a técnica de armazenamento de gás carbônico seja bem recebida em países desenvolvidos como os Estados Unidos, Japão, Inglaterra e Alemanha, ainda é empregada numa escala relativamente pequena.
De acordo com o Relatório Especial para Captura e Armazenamento de Dióxido de Carbono do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), publicado em 2005, “as indústrias não usam o CCS como opção para mitigação por causa de seu alto custo”.
Porém, “com a diminuição do preço do CCS, a aplicação dessa tecnologia em níveis industriais deve começar antes de 2030 e se espalhar pelo mundo após essa data”, prevê o documento.
Toru Sato, do Departamento de Tecnologia, Política e Meio-ambiente Oceânico da Universidade de Tokyo, que também participou do evento na USP, afirma que para armazenar uma tonelada de gás carbônico custa entre 30 e 90 dólares e que 70% desse montante são gastos na captura do gás. O preço é alto, mas os benefícios podem superar essas despesas, avalia o pesquisador.
Perigos envolvidos
Apesar de serem promissoras, as tecnologias de captura e armazenamento de gás carbônico não estão livres de riscos. Com o gás já armazenado, o problema passa a ser a possibilidade de vazamento. O gás carbônico é tóxico aos seres humanos e, se escapar da reserva, pode causar danos a sua saúde e a dos animais.
Em ambientes marinhos, o gás se dilui na água, tornando-a mais ácida. Essa diminuição no pH aquático é perigosa para o desenvolvimento de certos tipos de corais, o que pode afetar toda a cadeia alimentar do local contaminado.
Encontrar formas seguras de usar essas tecnologias carbono é, portanto, essencial para o sucesso de sua aplicação em larga escala. “O CCS tem riscos locais, o aquecimento global, mundiais; resta saber o que é melhor”, sintetiza Sato.
De acordo com o pesquisador, o governo japonês tem se debruçado sobre essas questões e o Ministério do Meio Ambiental do país está desenvolvendo diretrizes para o licenciamento das tecnologias de CCS às empresas interessadas.
“Os riscos dessas operações são reais e seus danos podem ser graves, porém, novas regulamentações estão sendo criadas para o desenvolvimento de medidas de segurança e padrões ambientais a serem seguidos”, conclui.
Rafael Foltram
Ciência Hoje On-line/ SP