Estranho no ninho

 

Os robôs receberam a aplicação de feromônios de baratas para que fossem reconhecidos e aceitos pelo grupo (fotos: ULB Leurre).

Um robô capaz de se comportar como uma barata e ser aceito por elas como parte do grupo foi apresentado ao mundo no fim do ano passado. A novidade, recém-anunciada por pesquisadores de cinco universidades européias, sob a coordenação da Universidade Livre de Bruxelas (Bélgica), é que o pequeno InsBot (robô-inseto) também é capaz de influenciar o comportamento de grupos de baratas, modificando seus hábitos. O estudo abre espaço para outras experiências de sociedades mistas de animais e robôs.

Assim como as formigas, as baratas dispõem de um sistema de sociabilidade chamado ‘inteligência coletiva’. Isso quer dizer que o comportamento do grupo é guiado por simples ações individuais reproduzidas pelos outros animais – o que explica o poder de atuação dos robôs sobre os insetos.

Para realizar o projeto, os cientistas analisaram por três anos os hábitos das baratas, em especial seu sistema de aquisição de informação e o relacionamento com o grupo. Desenvolveram então um modelo matemático que descreve o comportamento desses insetos, reproduzido pelos pequenos robôs. Entre esses hábitos estão caminhar junto às paredes, gostar do escuro e do agrupamento. O InsBot foi programado para, ao chegar em locais escuros, simplesmente parar de se mover quando encontrar baratas reais, assim como elas fazem.

O InsBot é equipado com motores, rodas, uma bateria recarregável, alguns processadores (de computador), uma câmera sensível à luz e um kit de sensores de obstáculos. E o mais importante: cheira como uma barata. Apesar de não se parecerem com esses insetos, os robôs receberam feromônios de baratas (substância naturalmente secretada por indivíduos dessa espécie que permite que eles se reconheçam), isolados em laboratório. Esse foi o sinal verde para a circulação dos espiões robóticos entre os insetos, que não desconfiaram se tratar de um invasor.

Os InsBot (robôs-insetos) foram capazes de interagir com as baratas e conduzi-las para a luz, contrariando seu comportamento normal .

Durante o experimento, foram colocadas 12 baratas e quatro robôs em uma espécie de arena, com locais de sombra e iluminados. Os InsBot tiveram a missão de ir até as áreas escuras, interagir com os insetos e conduzi-los para a luz – contrariando o comportamento habitual das baratas, que buscam normalmente a sombra. Depois de duas horas, robôs e cientistas saíram vitoriosos do desafio.

O experimento encerrou as atividades do projeto Leurre (‘isca’, em francês), que reúne pesquisadores de microrrobótica e ecologia social da Suíça, França e Bélgica e recebeu financiamento de dois milhões de euros (cerca de R$ 5,8 milhões) da Comissão Européia para Novas Tecnologias (FET).

Os próximos projetos do grupo envolvem ovelhas e galinhas, animais cujo comportamento é ditado por um sistema de liderança entre seus membros. Os pesquisadores acreditam que, no futuro, seria possível usar tecnologia semelhante à dos robôs-barata para controlar grupos de ovelhas em pastos, evitar o pânico entre galinhas-d’angola devido ao confinamento ou à presença de predadores e até incentivar frangos criados de forma intensiva a fazer exercício físico.

Rosa Maria Mattos
Ciência Hoje On-line
19/06/2006