Estratégias diferenciadas para a Amazônia

 

O mapa destaca a área de 5,5 milhões de km2 coberta pela Amazônia em nove países: Brasil, Colômbia, Peru, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (arte: Nasa / Wikimedia Commons) .

Levar em conta a especificidade das diferentes regiões que compõem a Amazônia: esta é a solução para minimizar o impacto do aquecimento global sobre esse bioma. A proposta é de uma dupla de biólogos que apontam em um estudo as estratégias de conservação mais adequadas para as espécies amazônicas no cenário das mudanças climáticas.

“É importante termos em mente que a Amazônia é composta por paisagens e microclimas distintos. Por isso, cada área responderá aos impactos do aquecimento global de maneira diferente”, destaca o norte-americano Timothy Killeen, da ONG Conservação Internacional e um dos autores do estudo. “Para adotarmos estratégias que realmente funcionem, é essencial que conheçamos profundamente cada uma dessas localidades”, completa.

As estratégias devem levar em conta fatores como o relevo, a altitude e os padrões de precipitação e temperatura de cada região. Essa medida, conclui o estudo, deve ajudar a aprimorar as ações de conservação já existentes e que muitas vezes perdem a eficácia, por não serem aplicadas adequadamente. O trabalho, que também teve como autor o colombiano Luis Solórzano, da Fundação Gordon e Betty Moore, em São Francisco (EUA), foi publicado na edição especial sobre a Amazônia do periódico científico britânico Philosophical Transactions B.

Killeen explica que, caso o aquecimento global leve à redução da precipitação e ao aumento da sazonalidade entre as chuvas, áreas como o centro e o oeste da Amazônia devem ser prioritariamente preservadas. “Trata-se de porções onde o regime de chuvas já é estável, e, portanto, caso não haja desmatamento, dificilmente serão afetadas pelo aquecimento global”, esclarece o biólogo.

Já nas partes leste e sul da Amazônia, onde as mudanças climáticas podem ocasionar a substituição da floresta ombrófila pela savana, os pesquisadores inferiram que a melhor estratégia é manutenção dos ecótonos – áreas de transição entre dois ecossistemas em escala local e entre dois biomas em escala continental. Killeen lembra que é justamente nessas áreas que se concentra a maior parte das fazendas, onde há o desenvolvimento de atividades agropecuárias, que comprometem as propriedades do solo. “Nesses locais, encontramos organismos capazes de viver em mais de um hábitat. Com a conservação dos ecótonos, garantiremos a preservação de diversas espécies”, argumenta o biólogo.

O caso dos Andes
Estratégias diferentes devem ser adotadas para a porção ocidental da Amazônia, que vai até os Andes. Ali, as mudanças climáticas se traduzirão em um aumento da temperatura que, junto com a altitude, controla a distribuição da biodiversidade. “Nesse caso, apontamos a necessidade de identificar corredores de paisagens ininterruptos, que se estendam desde as terras mais baixas, até as porções mais elevadas”, explica Killeen. “Assim, algumas espécies conseguirão manter sua distribuição geográfica”.

Por fim, os autores também levantaram dados a respeito dos ecossistemas dos rios localizados na parte sul da Amazônia. Eles constataram que, para preservar o fluxo de água ameaçado por uma eventual seca e pelo desmatamento, é necessária a manutenção de corredores nas margens desses rios. De acordo com Killeen, esses corredores possibilitam a preservação simultânea dos ecossistemas aquáticos e terrestres, além de garantirem o espaço necessário para a sobrevivência de determinadas espécies.

O biólogo ressalta ainda a importância de se combater o desmatamento, que responde por 20% das emissões mundiais de gases do efeito-estufa na atmosfera. “O Brasil possui grande responsabilidade sobre esse percentual, uma vez que é o líder em desmatamento dentre os países tropicais”, afirma Killeen. “Caso o ritmo do desflorestamento seja mantido, dentro de dez anos, o país pode até mesmo perder o posto de detentor da maior parcela da Amazônia no mundo”, alerta o biólogo.   

Andressa Spata
Ciência Hoje On-line
12/05/2008