Estudo alerta para perigos do ecstasy

Usuários de longa data da droga ecstasy podem ter mais dificuldades de avaliar riscos do que pessoas que nunca experimentaram drogas, segundo revela um estudo recente da Universidade de Bonn (Uni-Bonn), na Alemanha. A análise mostrou também que a substância pode prejudicar a memória em extensão considerável. Os pesquisadores suspeitam ainda que os medicamentos atualmente usados para combater a droga são ineficientes.

Derivado da anfetamina, o ecstasy provoca no usuário um estado de relaxamento e felicidade que dura cerca de oito horas. Após esse período, o consumidor enfrenta 2 a 3 dias de depressão

Para os testes foram recrutados 20 consumidores de ecstasy que utilizaram a droga no mínimo 50 vezes no período de um ano, 20 usuários de maconha e 20 pessoas sem histórico com drogas ilícitas. Recrutados a partir de anúncios, os voluntários tinham 25 anos em média. Um período máximo de três dias de abstinência foi estipulado aos participantes antes dos experimentos e o consumo de cigarros não foi proibido durante os testes.

“Como consumidores de ecstasy costumam usar freqüentemente maconha, exames de urina foram feitos para garantir o uso exclusivo da droga determinada”, disse à CH On-line o psicólogo Boris Quednow, da Clínica de Psicofarmacologia da Uni-Bonn, um dos autores do estudo, publicado em janeiro na revista Neuropsychopharmacology . “O método nos assegurou controle na observação dos efeitos toxicológicos da droga específica analisada.”

No primeiro teste realizado, os participantes deveriam pegar cartas com números de quatro montes diferentes: dois tinham predominantemente cartas altas e baixas, e os outros dois, uma média equilibrada. O objetivo da tarefa era somar a maior quantia possível. Esperava-se que os voluntários percebessem quais eram os montes mais vantajosos (os equilibrados, pois minimizavam os riscos).

No entanto, os consumidores de ecstasy não mudaram de estratégia até o final do experimento — após certo tempo, os outros dois grupos começaram a distinguir as pilhas mais promissoras. “Presume-se, assim, que o ecstasy eleva a impulsividade e prejudica decisões”, conclui Quednow.

Em um segundo teste, os voluntários teriam que memorizar 15 palavras citadas, repetidas cinco vezes. Usuários de maconha e o grupo de controle realizaram a tarefa com êxito e, meia hora depois, puderam reproduzir uma média de 14 palavras. Já os consumidores de ecstasy só conseguiram apontar cerca de 12 palavras imediatamente após serem ditadas; meia hora depois, aproximadamente 10.

“Como a duração do consumo de ecstasy estava associada com a performance na tarefa, acreditamos que o problema é o uso da droga e não um fator de personalidade”, afirma Quednow. “Acreditamos que esses usuários podem não se recuperar completamente e até mesmo desenvolver demência devido aos danos no cérebro.”

Os pesquisadores avaliaram ainda a influência do ecstasy no sistema funcional da serotonina no cérebro humano. Os experimentos realizados pela equipe de Quednow sugeriram que os usuários da droga não sofrem uma diminuição permanente dessa substância, como suposto previamente. “Concluímos que as células receptoras de serotonina parecem se adaptar a falta da substância e compensá-la”, afirma Quednow. “Se nossa interpretação estiver correta, isso será um imperativo para a mudança no tratamento dos efeitos da droga.”

Renata Moehlecke
Ciência Hoje On-line
09/06/04