Estudo mapeia mutações do vírus da dengue

Uma pesquisa realizada por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com a Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), na Bahia, analisou mais de três mil seqüências genéticas do vírus da dengue para compreender as mutações sofridas pelo RNA viral. O estudo concluiu que o tipo 2 apresenta uma taxa de modificação superior à dos outros três tipos e, por isso, é capaz de evoluir mais rapidamente em novos subtipos.

Vírus da dengue observado ao microscópio eletrônico. A dengue é típica de regiões tropicais e já foi identificada em mais de 100 países da América Latina, África e Ásia. Em 2007, foram diagnosticados mais de 500 mil casos da doença em todo o país (foto: Wikimedia Commons).

Foram comparadas seqüências do mundo inteiro, extraídas do banco de dados público do Laboratório Europeu de Biologia Molecular (EMBL). Os resultados, publicados na revista Reciis, editada pela Fiocruz, apontaram que o vírus do tipo 2 apresenta uma taxa de mutação quatro vezes maior do que a do tipo 4, e cerca duas vezes maior do que as dos outros tipos.

Os casos de dengue do tipo 2, assim como os do tipo 1, são os mais comuns no Brasil, enquanto as primeiras manifestações da dengue do tipo 3 surgiram no final dos anos 1990. O tipo 4 não é identificado no país desde o final da década 1980.

Os pesquisadores estão analisando o gene da RNA polimerase, enzima responsável pela síntese do material genético do vírus, para entender como as mutações afetam essa proteína e a replicação viral. “Queremos entender como a polimerase pode influenciar o surgimento das mutações”, justifica o geneticista Nicolas Carels, coordenador do projeto. “Existem linhas de pesquisa que buscam encontrar drogas capazes de bloquear a ação dessa enzima.”

Vacina em desenvolvimento
Os pesquisadores agora buscam encontrar uma vacina definitiva contra a dengue. A maior dificuldade é desenvolver um composto eficaz contra os quatro tipos do vírus. Um indivíduo imunizado contra um único tipo, quando entra em contato com outro tipo, pode desenvolver a forma hemorrágica da doença – isso acontece uma vez a cada mil casos.

Várias pesquisas em busca de uma vacina estão sendo desenvolvidas ao redor do mundo. Para se chegar a um resultado definitivo, no entanto, ainda serão necessários testes de validação de eficiência e de segurança. Esses ensaios ainda não foram completados com nenhuma das estratégias em andamento. “A expectativa é que resultados positivos surjam dentro de alguns anos e que uma vacina esteja disponível para o povo brasileiro por volta de 2012”, estima Carels.

Até que a vacina seja uma realidade, “a melhor forma de lutar contra a doença ainda é combater o mosquito vetor, e dessa forma, diminuir o impacto da doença sobre a população”, conta Carels. Segundo ele, a elevada taxa de mutação do vírus do dengue favorece a aparição de novos subtipos virulentos. 

Igor Waltz
Ciência Hoje On-line
27/02/2008