Estudo quer adaptar fruta amazônica ao Sudeste

O camu-camu (Myrciaria dubia) brota de arbustos nas margens alagadas dos rios da Amazônia (fotos: Joaci Luz)

Japão, Estados Unidos e União Européia já comercializam pastilhas de vitamina C produzidas a partir do camu-camu, fruta amazônica de aparência semelhante à jabuticaba. O Brasil, no entanto, ainda não tem um sistema de plantação em escala comercial que atenda à demanda internacional do produto. O pesquisador Eduardo Suguino, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), em Piracicaba, está à procura de uma solução. Há cinco anos, ele estuda maneiras de adaptar o arbusto ao solo não encharcado da região Sudeste.

O camu-camu, também conhecido como caçari, araçá-d’água e crista-de-galo, começa a produzir aos três ou quatro anos e frutifica principalmente entre novembro e março. Na Amazônia, às margens dos rios, os arbustos recebem grande quantidade de material orgânico trazido durante as cheias e suas sementes são espalhadas principalmente pelos peixes que se alimentam do fruto.

Embora a planta já tenha sido ‘domesticada’, a produtividade conseguida na plantação no Vale do Ribeira (SP) — de 3 a 5 quilos de frutos por ano, em média — é menor do que a obtida em seu hábitat natural — até 10 quilos por ano. Isso ocorre porque, além de o solo do Vale do Ribeira ser diferente, as condições de umidade e temperatura sofrem nas épocas mais frias do ano alterações que não ocorrem no hábitat natural do camu-camu.

 

Na Amazônia, as sementes que caem dos arbustos de camu-camu são espalhadas pelos peixes que se alimentam do fruto (fotos: Eduardo Suguino)

Para melhorar a adaptação do arbusto, Suguino utiliza o método da enxertia, que consiste na inserção de um ramo da planta adulta em outra espécie da mesma família botânica, para que este se desenvolva como na planta original. Essa técnica permite a associação do camu-camu a árvores da mesma família já adaptadas à região Sudeste.

 

Embora os primeiros testes, feitos com goiaba e pitanga, não tenham apresentado resultados satisfatórios, novas experiências estão sendo feitas com jabuticaba, araçá e grumixama, todas da família das mirtáceas. As sementes são fornecidas pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

 

À esq., um galho da planta que vai receber o enxerto de camu-camu é cortado
transversalmente; no centro, o enxerto já foi inserido; à dir., os dois são unidos por um material que faz pressão sobre o local e ajuda na ‘cicatrização’ (fotos: Eduardo Suguino)

Se o camu-camu se adaptar ao Sudeste, poderá ser cultivado em escala comercial para atender seu grande potencial de exportação. “No Peru, além de ser usado na produção de sucos, doces e sorvetes, ele já é vendido principalmente para o Japão, que utiliza a vitamina C em cosméticos e remédios”, conta Suguino. Cada 100 gramas de polpa apresentam 2,8 g de vitamina C, contra 1,8 g encontrada na mesma quantidade de polpa de acerola. Além disso, cada 100 g da casca do fruto podem apresentar até 5 g de vitamina C.

 

Catarina Chagas
Ciência Hoje On-line
02/06/04