Estudo recomenda prudência com medicamentos naturais

 

      

Se você costuma tomar cápsulas de plantas medicinais indiscriminadamente e sem consulta médica, fique alerta: um estudo realizado na Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília (UnB) concluiu que é preciso ter mais cuidado com a procedência desses remédios naturais. Publicada em abril na revista americana Food and Chemical Toxicology , a pesquisa verificou a presença de três metais pesados (cádmio, mercúrio e chumbo) em medicamentos fitoterápicos.

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As castanhas-da-índia são produzidas por árvores da espécie Aesculus hippocastanum (foto: Mark Brand)

É a primeira vez que esse tipo de estudo é feito no Brasil. Dez das plantas mais consumidas com fins terapêuticos no Distrito Federal foram avaliadas: alcachofra, berinjela, cáscara-sagrada, castanha-da-índia, centelha-asiática, clorela, espinheira-santa, Ginkgo biloba , ginseng e guaraná. A maioria das 120 amostras passou nos testes, com resultado negativo ou baixos níveis de metais. Mas três das 15 amostras de castanha-da-índia apresentaram altos níveis de contaminação por chumbo: a Organização Mundial de Saúde estabelece um limite de 10 mg por kg e a análise dos extratos constatou até 1.480 mg por kg.

Eloísa Caldas, coordenadora do laboratório de Toxicologia da UnB e autora principal do estudo, entretanto, ressalta que, apesar dos valores alarmantes constatados, o problema é pontual. “As castanhas contaminadas vinham da Alemanha e França. O mais provável é que as plantas usadas para retirar os extratos tenham vindo de áreas industriais altamente poluídas e tenham sido contaminadas pelo ar”, diz. “Mas a contaminação também pode ter ocorrido após a coleta da amostra, durante o processo de manipulação ou distribuição do produto pelos fornecedores e distribuidores.”

A castanha-da-índia costuma ser usada no tratamento de varizes e como coadjuvante no de redução de celulite. Todas as 120 amostras, doadas por lojas locais especializadas, chegaram no laboratório em sacos plásticos e foram mantidas em temperatura ambiente até serem analisadas. Os extratos foram diluídos em ácidos e testados em um aparelho de espectrofotometria de absorção atômica — que averigua a presença desses metais.

Se ingeridos em quantidades maiores e por longo tempo, esses produtos naturais com grandes concentrações de metais pesados podem causar sérios danos ao organismo humano. No caso do chumbo, o acúmulo da substância no corpo (que se deposita nos ossos no lugar do cálcio) afeta gravemente o sistema nervoso e reduz a resistência a bactérias e vírus.

Eloísa pretende dar continuidade ao estudo com maiores quantidades de extratos de castanha-da-índia. A intenção de apurar a real causa da contaminação e rastrear totalmente a origem dos produtos. “O resultado dessa pesquisa serve de alerta: produtos fitoterápicos não deveriam ser vendidos sem qualquer restrição nas farmácias homeopáticas de Brasília”, adverte. “Eles têm que passar por um controle, pois as plantas também têm toxinas naturais para se defender que podem ser tóxicas para o homem em grandes quantidades.”

Renata Moehlecke
Ciência Hoje On-line
12/05/04