O que a estátua Vênus de Milo, a boneca Barbie e a atriz Marilyn Monroe têm em comum? Símbolos sexuais, elas possuem formas físicas semelhantes e representam um cânone de beleza ocidental que desperta o desejo de milhões de homens. E, de acordo com os resultados de uma pesquisa publicada em 22 de março na revista britânica Proceedings of the Royal Society B , a construção desse padrão seria resultado de um mecanismo de adaptação evolutiva, pois mulheres com esse tipo físico teriam alta capacidade reprodutiva.
O violino de Ingres , foto de 1924 do artista
norte-americano Man Ray (1890-1976)
Para chegar a tal conclusão, uma equipe coordenada por Grazyna Jasienska, do Departamento de Epidemiologia e Estudos Populacionais da Universidade Jagiellonski, em Cracóvia (Polônia), realizou um estudo com 119 mulheres e constatou que aquelas que têm seios fartos e cintura fina — características recorrentes nos símbolos sexuais — produzem maiores quantidades de hormônios essenciais para a reprodução.
Durante o estudo, os pesquisadores compararam a taxa de produção dos hormônios 17-b estradiol (E2) e progesterona (calculada em amostras de saliva coletadas em diferentes etapas do ciclo menstrual) com o formato do corpo. Essa característica foi avaliada a partir de medições do tamanho dos seios e da proporção entre cintura e quadris das voluntárias (quanto mais fina a cintura, menor a proporção).
As mulheres do grupo de seios grandes e cinturas finas apresentaram, em média, níveis 26% mais altos do tipo de estradiol considerado — esse hormônio tem funções importantes no desenvolvimento do ciclo reprodutor feminino. No meio do ciclo menstrual, a diferença chegou a 30%. “Baixos níveis desse hormônio podem ser responsáveis por reduzir a fertilidade das mulheres”, alerta Jasienska em entrevista à CH On-line .
Nas voluntárias com menor proporção entre cintura e quadris, também foram detectados níveis mais elevados de progesterona — que, por sua vez, prepara o revestimento do útero para a recepção do zigoto (óvulo fecundado) e é essencial para a manutenção da gestação.
“As comparações nos levaram à conclusão de que a característica mais associada a uma gestação saudável é a cintura fina, por estar relacionada diretamente com produção elevada dos dois hormônios estudados”, constata a pesquisadora.
O estudo dispensou participantes excessivamente magras ou obesas. “Mulheres com essas características freqüentemente têm problemas com funções do ovário e podem apresentar baixa produção de hormônios, mesmo que tenham cintura fina ou seios grandes”, explica Jasienska.
Ela alerta que as conclusões da pesquisa não são válidas para populações com problemas de subnutrição. “Em mulheres com deficiência nutricional, as relações entre as medidas da cintura e dos seios com os níveis hormonais podem ser ‘mascaradas’, pois, se uma mulher perde peso, seus níveis hormonais decairão independentemente do formato corporal.”
Isso explicaria o comportamento dos homens de algumas sociedades que preferem mulheres ‘cheinhas’. “Esses indivíduos procuram parceiras sem problemas de nutrição, uma indicação segura de que terão maiores sucessos na reprodução.”
Julio Lobato
Ciência Hoje On-line
27/05/04