Faixas estreitas poderiam reduzir acidentes fatais

O uso adequado de faixas estreitas no trânsito pode contribuir para diminuir o índice de acidentes com mortes, diz a dissertação de mestrado do engenheiro Olímpio Mendes de Barros, defendida na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). A pesquisa considerou faixas estreitas aquelas com menos de 3,0 m (um carro tem largura média de 2 m, e um ônibus, 2,6 m). “O impacto das faixas reduzidas na capacidade e conforto das vias já foi bastante estudado. A questão da segurança é que ainda precisava ser mais bem analisada”, explica Olímpio.

O uso de faixas mais estreitas pode aumentar o fluxo de veículos

As conclusões são fruto da análise de 461 boletins de ocorrência registrados junto à Polícia Militar do Estado de São Paulo entre janeiro de 2000 e novembro de 2001. Surpreendentemente, o número de acidentes com vítimas foi menor nos trechos com uso de faixas estreitas. “Estudos anteriores constataram o contrário, talvez por não terem contemplado apenas acidentes com vítimas”, explica o engenheiro.

Foram considerados acidentes com motos e carros em duas grandes avenidas da cidade de São Paulo: a Rebouças, com 2,23 km de extensão com faixas com cerca de 2,5 m de largura, e a Interlagos, cuja largura das faixas se situa entre 2,5 e 2,8 m ao longo de 4,75 km. Os acidentes foram divididos em diversos tipos: na Interlagos, por exemplo, foram 29 atropelamentos nos trechos com faixas estreitas e 55 nos trechos com faixas normais. Já na Rebouças, registraram-se 44 colisões traseiras nos locais com faixas normais e apenas 12 nas faixas reduzidas.

Uma explicação para a redução dos acidentes seria o fato de os motoristas tenderem a andar mais devagar em faixas menores. “Mas os resultados indicam que o impacto do uso de faixas estreitas no número de acidentes depende de outras variáveis como composição do tráfego, taxas de vias transversais e de semáforos por trecho”, ressalta Olímpio. O engenheiro frisa que seu estudo não é suficiente para comprovar o impacto positivo das faixas estreitas.

Um aspecto negativo de seu uso é a sensação de desconforto para motoristas e motociclistas: os primeiros reclamam da proximidade de outros veículos; já no outro grupo a queixa é pela falta de espaço para trafegar e praticar a famosa ‘costurada’ no trânsito. “As faixas estreitas exigem mais atenção e cautela dos motoristas, e talvez por isso contribuam para a segurança.”

Já em relação à capacidade, Olímpio afirma que muitos estudos já mostraram que o uso de faixas menores pode aumentar o fluxo de veículos. Uma faixa estreita tem um fluxo de carros, motos e caminhões menor que uma faixa maior. Mas quatro pequenas faixas recebem um contingente muito maior de veículos do que três grandes — e o aumento da capacidade viária dos grandes centros urbanos é urgente hoje em dia.

O engenheiro espera que sua pesquisa “melhore a compreensão da influência da largura das faixas na segurança viária, e possibilite que futuros projetos com a adoção de faixas estreitas e eventuais ajustes aos já existentes sejam desenvolvidos de modo mais seguro”.

Denis Weisz Kuck
Ciência Hoje on-line
15/04/03