Família influencia fumo na adolescência

Estudo feito no Rio Grande do Sul aponta relação entre o fato de a mulher fumar durante a gravidez e o surgimento do vício nos filhos até a adolescência.

Filhos de mães que fumaram durante a gravidez têm mais chances de se tornarem fumantes até a adolescência. A conclusão é de estudo realizado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no Rio Grande do Sul, que acompanhou durante alguns anos 6 mil crianças nascidas em 1982 e reencontrou parte do grupo, já na fase adulta, em 2005. Fatores presentes no ambiente familiar, como o alcoolismo e a baixa escolaridade dos pais, também foram considerados de alto risco para o surgimento do hábito de fumar.

Segundo um dos coordenadores do estudo, o epidemiologista Bernardo Horta, do Departamento de Medicina Social da UFPel, 15% das pessoas avaliadas começaram a fumar ainda na adolescência. Entre os rapazes, a incidência do vício foi maior em filhos de mães solteiras ou cujos pais apresentavam baixa escolaridade. Entre as moças, a baixa renda da família e o alcoolismo dos pais podem ter sido determinantes para o hábito de fumar. Em ambos os casos, o fato de as mães fumarem durante a gestação foi um fator de risco para o tabagismo dos filhos. Surpreendentemente, poucas crianças que cresceram ao lado de pais fumantes adquiriram o vício.

A pesquisa avaliou todos os bebês nascidos no ano de 1982 em Pelotas, no Rio Grande do Sul – e continua acompanhando essas pessoas até hoje. Após o parto, as mães foram entrevistadas para a coleta de dados demográficos e socioeconômicos, assim como informações sobre a gravidez e o comportamento da família. Em 1986, as crianças – já com 4 anos – foram procuradas para que fossem registrados dados sobre alimentação, hospitalização e doenças adquiridas. Uma parcela do grupo passou por nova entrevista aos 15 anos. Em 2004 e 2005, foram aplicados questionários aos 2.200 rapazes e 473 moças que puderam ser encontrados pelos pesquisadores. “Foi mais fácil localizar os rapazes devido ao alistamento militar”, explica Horta.

As respostas revelaram que 48,6% dos garotos e 53,1% das meninas já haviam experimentado cigarro. O hábito de fumar foi adquirido antes dos 13 anos por 11,5% dos homens e 18% das mulheres fumantes. Segundo a epidemiologista Ana Maria Menezes, professora do Departamento de Clínica Médica da UFPel e autora de artigo recente sobre a pesquisa publicado na revista Cadernos de Saúde Pública , os homens com mais de 40 anos estão deixando de fumar, enquanto as mulheres estão fumando cada vez mais cedo. “Se nenhuma medida for tomada, a tendência, em um futuro próximo, é a prevalência de tabagismo se tornar maior entre as mulheres do que entre os homens”, ressalta ela.

Orientações para campanhas de prevenção
Para Bernardo Horta, as conclusões podem auxiliar as campanhas de prevenção ao tabagismo. “Ao se mapear fatores de risco no início da vida, é possível prever seus impactos futuros. É mais fácil prevenir o vício do que tentar remediá-lo.” O pesquisador sugere que as campanhas usem estratégias diferentes para atrair públicos distintos: “Homens e mulheres têm razões diferentes para começar a fumar, e isso também depende da condição socioeconômica.”

Ana Maria Menezes concorda e propõe algumas abordagens diferenciadas: “Falar sobre como o cigarro contribui para o envelhecimento precoce, a esterilidade e o escurecimento dos dentes pode ser uma forma mais eficiente de atrair as jovens”, diz. “Já o risco de impotência, um dos possíveis efeitos do tabagismo, poderia ser usado em campanhas educativas voltadas para os rapazes”, conclui.

Fernanda Alves
Ciência Hoje On-line
30/07/2007