Fator decisivo

 

Como ativa pesquisadora na área de bibliometria e cientometria, é com satisfação que recebo a notícia divulgada em 6 de maio pela assessoria de imprensa da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). O informe anuncia que a ciência brasileira aumentou significativamente sua participação na produção científica mundial, passando a ocupar a 13ª posição, ganhando dois postos.

Tela inicial do portal da Web of Science, base de dados sobre artigos científicos usada como fonte no levantamento divulgado pela Capes.

Os pesquisadores brasileiros, anuncia a Capes, foram responsáveis pela publicação de 30.451 artigos em 2008, contra 19.436 no ano anterior – um crescimento de 56,7%. O comunicado de imprensa não menciona a fonte utilizada na análise, mas trata-se seguramente de informações da Web of Science [Teia da ciência], base de dados sobre artigos científicos publicados em todo o mundo.

Trata-se evidentemente de um crescimento importante e muito significativo não só para as agências de fomento à pesquisa, mas para toda a comunidade que busca a excelência e visibilidade de seus trabalhos. E, portanto, deve ser amplamente comemorado, mas também entendido do ponto de vista da sua complexidade.

Como a literatura científica aponta, diversos são os motivos envolvidos no aumento ou na redução da produção científica de uma nação, região, instituição e/ou de um indivíduo. O comunicado elaborado pela Capes menciona algumas dessas possíveis motivações: o investimento em recursos humanos, o acesso dos pesquisadores e programas de pós-graduação aos periódicos disponibilizados no portal da Capes e a extraordinária atuação dessa instituição na manutenção e investimento de suas atividades. Essas atribuições – que não são exclusivas da Capes – têm sido fundamentais para o pleno andamento da atividade no país e vêm sendo decisivas há mais de uma década.

Indexação de novos periódicos
O comunicado, no entanto, ignora um ponto central ligado à constituição da base de dados Web of Science, fonte de sua análise: o processo de indexação dos periódicos. Em 2007, por uma série de questões, que incluíram uma intensa discussão e negociação de autoridades brasileiras e os responsáveis por esse banco de dados internacional, o número de periódicos latino-americanos nessa base cresceu enormemente. No caso do Brasil, eram 27 periódicos nacionais indexados em 2007, número que cresceu para 64 em 2008, a maior parte dos quais estão catalogados no portal SciELO.

Assim, será que não foi este o fator decisivo para tão importante aumento da participação brasileira nos artigos indexados na base neste último ano? Não tenho a resposta, mas uma análise detalhada antes e o depois da inclusão desses periódicos na base Web of Science é fundamental para um melhor entendimento do papel das publicações nacionais na produção científica brasileira nessa base.

Quem sabe depois disso os periódicos do portal SciELO ganhem maior reconhecimento e destaque? Afinal, eles parecem ser muito eficazes para reduzir a “ciência perdida” de nosso país. 

Jacqueline Leta
Programa Educação, Gestão & Difusão em Ciencias
Instituto de Bioquímica Médica
Universidade Federal do Rio de Janeiro 
12/05/2009